A parede incolor

Resta-me pouco tempo de compreensão e muita de reflexão. O dia transformou-se por momentos em areis movediças, onde o sol foi engolido unilateralmente ficando só com o lado esquerdo da sua constituição. Era uma constituição um tanto estranha. Pouco, ou nada brilhava. O seu calor transformava-se em gelo descomunal.
Caiu então a noite entre casas desabitadas onde nem as velas conseguem dar luz à própria luz da vida. A parede entristece  e fica sem cor – incolor de mais, transparece assim a sua triste vida. Mostra não por palavras, mas pelo seu reflexo a falta de emoção que tem. Já não consegue chorar e assim perdeu a razão de viver. As pessoas passam pela rua indiferentes a esta parede incolor, passam como homens e mulher cegos que não querem saber do que se passa à sua volta, da dor que os outros sofrem.
Fico sem tempo para mais. Estou entre a escuridão e a falta de luz, porque sou ainda mais transparente do que aquela parede que ainda à pouco contemplei.