A opinião, o trabalho, tu

Contínuo sem saber, sem conhecer, sem entender, todas as almas que me rodeiam. Julgam-se umas às outras como se fossem meras pinturas d'um quadro manchado, destroem as próprias vidas com tal irracionalidade que até me surpreende negativamente, e nada faz sentido. O meu coração há muito que se perdeu no meio destas minhas palavras. Vagueia-se-me este corpo baralhado de tanto pensar pelas ruas sobrepostas; definitivamente fora um pensamento que se perdeu sem verdadeiramente se perder.

Durante todo aquele verão.. desci sempre à mesma hora pela rua estreita de sonhos estranhos e duradouros; levava comigo a mala de contabilidade desnorteada, o cachimbo entre os lábios cortados pelo vento gélido, e chegava ao trabalho de relance com uma inércia constante. Sentia-me lasso quando chegava - e quando chegava - descia ao rés-do-chão do edifício para contemplar as árvores que eram tão formosas.. tão maestras de uma genialidade genial.. tão majestosas como um imperador oriental.. E porque não podia eu ser como aquelas árvores? Sentir como elas sentem? De volta à rua dos poetas, esta inspiração obscura tornava-se um sólido sem ideias.

Tudo o quanto quis ser já não quero. Porque de longe te digo que estou perto de ti - mesmo estando distante fisicamente - pela parte abstracta abraço-te todos os dias. Rezo para ti o que nem para mim rezo, pois tu és mais santa do que qualquer outra alma. Adeus.. O meu navio atraca aqui. Desejo-te toda a sorte do mundo, pois aqui acabou a minha vida.