Coisas da vida


Sinto que já não sei viver. Tantas vezes que, quando atravesso a rua, gostaria de ser como os outros: despreocupado com tudo, vivendo a vida somente pelo prazer, inconsciente da razão, e enfim... viver a vida como ela é.
Mas não. Eu sofro porque não sei viver como eles. Neste interior tudo é diferente: as paisagens são meras impressões; o antepassado não é mais do que um passado fusco - não tenho saudade pelos que desapareceram -; e faço do conhecimento um orgulho, enquanto estes desvairados fazem-no uma coisa do passado...

Viajo assim, sozinho, interiormente, para um lado desconcertado perto do nada. Hoje em dia quem se interessa pela metafísica? Se não os imortais? Quem habita, de forma apenas abstracta, o planeta Terra? Neste século a sociedade decidiu mudar: desistiu da alma e submeteu-se ao corpo; desistiu do conhecimento e desmantelou-se para a ignorância; nesta rua que estou já ninguém pensa o porquê de existir alcatrão, o porquê de existir o infinito, o porquê de existirmos sem existirmos; já não se especula nada.

Hoje vêem pedra - talvez granito - e é granito. Chove, e para eles, somente chove. Isto é a vida do homem, é o tédio que não é tédio, do homem que não é homem. É uma supérflua luz numa vida tão pouco idealizada.
Eu fujo de tudo. Este esbofamento que me deram é somente físico e ainda assim não o é.

Comentários

  1. Life only exists..
    Hurts...the most..
    Your secret admire..
    A.M

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