Rotina de sábado


Acabava de dar uma hora quando saia de casa em direcção ao restaurante. Aos sábados parece que é rotina em mim. Fui, como aliás sempre vou, desinteressado com a comida e com as pessoas, que sei estarem lá presentes. E estranho o restaurante por ser um meio, um ciclo, um momento efémero mas repleto de aparências...
Tanta educação na mesa, não estou certo? Defronte de onde almoço está um homem velho em figura e velho em conversa, tornando a conversa daquela família tão monótona que a mulher e os filhos nem respondem; enche-se-lhes as mentes de calúnias, que são verdade, e de fortunas que fez e tem, que são mentira.
Cansaram-se tanto, já com a fonte esgotada, e levantaram-se da mesa. O velhote ficara sozinho. Mas eu apercebo-me de tudo isto: ele ainda está feliz, nem notou que se levantaram tão pouco; o ego dele está intacto de tal ordem que se convenceu ser autêntico, único; o todo daquela conversa foi como ele quis que fosse, cansativa e monótona.

Acabei de almoçar quando o emprego se dirige a mim:
- Deseja café senhor?
- Com certeza, disse eu.

Tomo o café, apesar de frio já ele estar, e contemplo ainda o velhote rico de tão rico que é parece pobre. Coitado... Os outros clientes, não melhores do que ele, repugnam este homem. Eu também o faço, apesar de ter pena de pessoas assim. Tão cobarde quando fala de ir à caça! Descreve como matar, mas não mata! Mostra a sua riqueza enaltecida, sem existir! E torna os pobres mais pobres só ao dizê-lo!

Como poderá ter ele desprezo pelos pobres se é um tanto de vida social como de espírito?

Álvaro Machado - 15:40 - 13-10-2012

Comentários

Mensagens populares