Mudança de tempo




Foi engraçado ver que o tempo muda quando quer e bem lhe apetece sem nos dar justificação ou aviso prévio. A natureza tem destas coisas.
De manhã achei desnecessária a voluptuosa roupa que vesti, ainda que nela me sentisse confortável, pois os raios de sol incidiram directamente sobre a minha fronte desprevenida. Durante a tarde as nuvens davam os primeiros sinais de vida, o vento gesticulava com a sua maneira tão natural que até parecia nem estar p'ra vir e o frio, pouco a pouco, chegava por entre as náuseas que intercalavam entre mim e mim.
Fui ler um pouco apressado. Fui cansado, fui chateado, fui com uma cólera inimiga. Quando me sentei, a leitura começou a fluir normalmente, apenas com pequenas pausas instantâneas do momento e, sem dar conta, havia passado o tempo que nem uma flecha, lançada por um arqueiro da época medieval...
De repente, um temporal instalava-se por todo o lado: barulho ensurdecedor dos carros em movimento indefinido, pessoas a correr de maneira azáfama, hora de ponta do intervalo entre o trabalho e a casa alheia a mim, frio a bater sobre o vidro dos autocarros, o chão começava a ficar velhaco!
Meti-me dentro do carro e contemplei aquele instante de maneira tão peculiar, ainda que interiormente me sentisse uma marioneta comandada pelo que havia lido do poeta superior e do sarcástico livro clássico datado do século XVII e que ninguém soubera da sua origem!...

Álvaro Machado – 22:12 – 15-11-2012

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