Em memória de Nelson Mandela

Lutou. Sim, lutou contra tudo e todos. Contra a corrupção, a favor da liberdade. Contra o racismo, a favor da igualdade. Ninguém sabia bem quem era aquela personagem emblemática, eterna já antes de o ser, que vincava bem os seus ideais e jamais ousaria abdicar deles fosse em que circunstância fosse. O certo era que, para além da incerteza relativamente à sua origem ou aos motivos do seu surgimento no plano mundial, unia as pessoas. As mãos erguiam-se de uma só vez, acompanhadas do grito de revolta, daquele grito que nos diz: queremos ser livres, nós fomos feitos para ser livres.

Tentaram derrubá-lo. Pessoas deste calibre nem sempre são bem-vindas na alta sociedade, nem na esfera jurídica, nem nos interesses económicos e muito menos aos presidentes, aos governos, que olharam para Mandela como uma ameaça real. De facto, era-o. Ou qual seria o jurista que, no seu perfeito juízo, não se sentiria ameaçado por alguém denunciar a corrupção que este pratica no seio da justiça? Ou então, qual seria o banqueiro que não se sentiria mal por alguém denunciar as lavagens de dinheiro ritualizadas e permanentes do mesmo? A resposta está à vista de todos: é uma ameaça, abatê-lo-emos então. E o facto consumado é que Nelson Mandela foi preso, preso exaustivamente. 

Até que esses corruptos conseguiriam sentenciá-lo como haviam desejado: prisão perpétua. Mas Mandela nunca baixou os braços, nunca recusou lutar pela justiça, nunca abdicou dos seus princípios e nunca, mas nunca, abandonou o seu povo. E, após quatro horas intensivas de julgamento, proferiu estas mesmas palavras: "Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e realizar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer".
Esteve 26 anos preso. Em 26 anos muito se altera, muito desespero surge, muita falta de esperança também. Perde-se a luz, o alento, a vontade de viver. Mas o que este homem provou é que quando a alma e o espírito são únicos jamais se é derrotado; jamais se cai, jamais alguém nos derruba! Não desistiu nunca e talvez por força de um poema - um poema, diria, magistral - este homem saiu da prisão mais forte do que nunca:

"Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishment the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul."

E termino dizendo que és um dos meus ídolos, uma das melhores pessoas que eu tive o prazer de ver, ainda que de longe, durante a minha vida. Obrigado por tudo. Todos te agradecemos pelo teu contributo à vida humana. Descansa em paz.

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