És? O quê?

Sentado, preso, indignado, revoltado, o quê? Estado de alma? Existência de dor, horas dolorosas, obscuros sentidos de vida? Quem és tu, afinal? Por quem te tomas? Real? Achas que existes só porque pensas e sentes dor e ouves o ruído dos carros e dos transeuntes quando passam e por acaso te cruzam pelo diálogo? Mas quem és tu, afinal? És do sonho real ou real do sonho? Criar-te-ás senhor de ti para te comandar e ter crença que o mundo te salva? O mundo não salva ninguém, para além da passagem repentina do tempo, ele só te vai empurrando para o abismo, nada mais do que isso. Estrada sem vista de fim e portanto sem fim, e é isso.

És real, existes, és tu? Quem te diz, com certeza, que é isso a tua essência, que és tu, que és alguém? São estas palavras a prova disso, sou eu? Eu não sou ninguém, senão vadio porque me cansei da alma humana - "a alma humana é um abismo" dizia Álvaro de Campos - e porque não nasci para andar no meio de multidões disfarçadas de boas intenções quando, bem no fundo, cravado nos seus corações, só existe o ódio. E escrevo-te porque te vi a sofrer, muito lúcido e estático, entre quatro paredes, enquanto olhavas a janela. Sofres, dizes tu? Mas o que é sofrer? É aquele sentir do coração vazio, quando ele dói e grita, urge pela salvação?
Sofrer não é isso; sofrer é veres tudo à tua volta num ciclo de normalidade concebida e não te sentires integrado, sofrer é veres que as tuas ideias e a tua forma de ser fica na margem do comum e és, nesse caso, um desertor, a sociedade não aprecia o que tu és nem o que escreves ou sentes, sofrer é isso, é passa sem ter a oportunidade de aquecer as mãos e escrever uma grande obra-prima...

E eu, sentado, preso, indignado, revoltado, o que for, sou uma floresta destronada da humanidade, uma barca destituída dos grandes almirantes, um horizonte em que nunca lhe foi dada esperança de o olhar, um vadio, como te disse, um vadio que deambula pelos séculos do universo e acompanha o infinito como se isso fosse a minha alma e a minha razão de existir: universo! Louco, eu? Louco! Vadio? Vadio até sempre!


Sabes... eu quando me sinto mais triste e completamente de rastos é quando escrevo mais e mais intensamente, escrevo sem noção, escrevo loucamente, freneticamente, escrevo, escrevo, escrevo, escrevo tudo o que eu quiser porque este é o meu mundo! O meu mundo! O vadio e o seu próprio mundo!

Álvaro Machado – 16:39 – 15-02-2014

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