Grandes políticos.

Os grandes políticos que atravessaram o nosso país - do PS, PSD e PCP - nos tempos em que a política vivia o seu auge, onde de facto a astúcia e a energia corriam no seu sangue, pois nunca é fácil mantermos os nossos valores e os ideais afincadamente contra o regime que ameaça a nossa integridade física, nos priva de defendermos aquilo em que acreditamos através da repressão e, em ultima instância, com a prisão.

Falo-vos eu de Mário Soares e de Álvaro Cunhal. Sá Carneiro, mais à frente. Mário Soares, indiscutivelmente um dos grandes fundadores da democracia, é um homem que nunca abdicou de lutar nem de desistir daquilo que sabia estar correcto, pois o país urgia pela liberdade e as pessoas pelo progresso e pela qualidade de vida (Pergunto-me se não é o mesmo do que agora...), e devido à imposição dessa mesma repressão foi preso doze vezes e posteriormente exilado, primeiro nas ilhas de São Tomé e depois em França. Com percurso semelhante à principal figura do Partido Socialista da época, Álvaro Cunhal também é preso num período de quinze anos, oito dos quais em total isolamento. Também é exilado, primeiro para Moscovo e depois para França. Portanto, estamos nós, neste preciso momento histórico, perante duas figuras carismáticas, que não se intimidam por nada nem por ninguém, que dizem sempre o que pensam independentemente das repercussões que possam advir. 

E apesar de serem adversários políticos e de partilharem diferentes ideais, respeitavam-se mutuamente. Sabiam do valor de cada um e juntos produziam aquilo que há muito tempo o nosso país silenciosamente sonhava: revolução, evolução. De facto, havia ali material, diria, bastante produtivo para o país progredir.

Em plano idêntico a este está Sá Carneiro, um dos fundadores do PPD. Caminhando lado a lado com o socialismo, o secretário-geral, nesta época revolucionária, escrevendo ia sobre a sociedade e as dificuldades que atravessara o nosso país. (Pois eu considero Sá Carneiro um dos grandes políticos da nossa história, que queria o seu partido um partido integrado na classe média e classe média-baixa, trabalhadores, operários.) 

Tornam-se então, estas incontornáveis personagens, únicas e eternas. Duas delas já partiram, uma ainda permanece entre nós, mas, seja como for, são os grandes políticos de Portugal dos tempos em que – repito – lhes corria no sangue aquela energia repleta de valores e de carisma, não como agora um vazio completo de ideais.

Finalizo, então, colocando o que pensava cada um sobre Portugal.

Escrevia Álvaro Cunhal a propósito da situação económica de Portugal:

“A situação económica tem-se agravado e tenderá a agravar-se. Tendo causas estruturais, as dificuldades da economia não podem ser vencidas por medidas através das quais o governo procura fazer face aos mais agudos problemas de conjuntura. O afrouxamento do ritmo de desenvolvimento, a baixa da produção agrícola, os défices sempre crescentes, do comércio externo, a inflação, a acentuação do atraso relativo da economia portuguesa em relação às economias dos outros países europeus, mostram a incapacidade do regime para promover o aproveitamento dos recursos nacionais, o fracasso da «reconversão agrícola» e a asfixia da economia portuguesa pela dominação monopolista, pelas limitações do mercado interno provocadas pela política de exploração e miséria das massas e pela subjugação ao imperialismo estrangeiro. (...) O processo de integração europeia, dado o atraso da economia portuguesa, agravará a situação. “ – 1973.

Escrevia Sá Carneiro, sobre a crise, a revolução, a liberdade e economia:

I – “Sem um crescimento económico não sairemos da actual situação de penúria que impõe, sobretudo às classes mais desfavorecidas, uma vida abaixo do nível a que se tem direito." - 1974

II – “Hoje vivemos na sequência de uma revolução conseguida sem sangue, que nos abriu caminhos de liberdade. Para que os possamos percorrer é indispensável o respeito absoluto das liberdades públicas e dos direitos cívicos, que vamos vendo infelizmente postos em causa.” – 1975

III – “A pessoa humana define-se pela liberdade. Ser homem é ser livre. Coarctar a liberdade é despersonalizar; suprimi-la desumaniza. A liberdade de pensar é a liberdade de ser, pois implica a liberdade de exprimir o pensamento e a de realizar na acção.” - 1969

IV – “Só será possível sanear a vida económica num clima de disciplina da vida política. Sem isso não haverá o incremento de investimentos, que é a primeira das medidas que nos permitirá debelar a crise.” – 1974

Escrevia Mário Soares, a propósito da democracia e do estado:

I – “A democracia está efectivamente em crise, por múltiplas razões. Entre elas, porque os Estados nacionais estão a ser corroídos nos seus poderes
tradicionais pela globalização económica e suas consequências”

II – “Somos um estado independente há quase nove séculos e não podemos consentir que nos tratem sem respeito ou que nos pretendam atirar para uma recessão sem remédio”

Fim.

Álvaro Machado – 18:18 – 09-02-2014

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