Infinita Síria

(Derrubem al-Assad!)

Há uns tempos atrás escrevia indignado como é que em pleno século XXI – século esse, julgava eu, que poder-se-ia descrever pela liberdade e pela paz – se tolerava um guerra civil levada a cabo pela violência extrema, levando consigo homens, mulheres e crianças à velocidade da luz. A ONU queria intervir (EUA, Inglaterra, França e Alemanha, mais concretamente) para lutar ao lado dos rebeldes e acabar de uma vez por todas com o regime ditatorial de Bashar al-Assad e com os seus massacres. No entanto, os russos e os chineses vetaram, por duas vezes, essas intervenções e, vai-se lá saber porquê, logo dois países que internamente a democracia deixa muito a desejar. Hoje retomo a escrever e, mais do que indignado, escrevo de cólera e escrevo intolerante. Em doses excessivas! Basta. Basta de guerra, basta de esquemas políticos, basta da inércia das pessoas, basta da comunicação social tentar encobrir o que realmente se passa!

A 26 de Janeiro do ano de 2011 ecoam as primeiras vozes que se opõem ao regime, dois meses depois, a 15 de Março, a revolta armada começa sem se vislumbrar fim à vista. Ninguém sabia muito bem o que aconteceria, na prática, com este eclodir para o futuro político do país, porém, todos sabiam uma coisa: muitas batalhas sangrentas ir-se-iam travar, inocentes injustamente arrastar-se-iam nelas, vidas levadas seriam numa barca infame…

Hoje, dia 10 de Fevereiro de 2014, o número de óbitos não tem número exacto. Dizem uns que são mais de 130 mil que partiram, dizem outros que ultrapassam os 200 mil. Numa notícia, que de seguida transcrevo, de Dezembro de 2013, podemos ver que os números falam por si nesta catástrofe: 

“A maioria dos mortos é de civis – aproximadamente, entre elas, 7000 são menores -, cujo número total chega a 44.381. Nas fileiras da oposição armada, houve neste período 27.746 baixas, entre as quais há 2.221 soldados desertores.

O Observatório afirmou que há um grande número de combatentes de nacionalidade estrangeira, embora não tenha detalhado seu número.
Entre os apoiantes do regime, pelo menos 31.174 soldados das forças regulares e 19.256 milicianos e informantes morreram.

Também foram mortos 232 membros do grupo xiita Hezbollah e 265 integrantes de facções xiitas, que lutam com as tropas do regime de Damasco.

A organização de direitos humanos acrescentou que há 2.781 mortos de identidade desconhecida.

2 milhões de sírios refugiam-se no exterior, muitas das vezes acolhidos no vizinho Líbano.

O Observatório não descartou que os números sejam superiores, já que não levou em conta no relatório os 21 mil prisioneiros em prisões do regime e em centros de detenção dos opositores.”

Exigem os cidadãos sírios algo idêntico ao que exigiam os portugueses de 74 (e já lá vão 40 anos!): “maior liberdade de imprensa, direitos humanos e nova legislação”. Ao invés das forças do regime que alegam estar a lutar contra “terroristas armados que visam desestabilizar o país” e que, portanto, não irão ceder a quaisquer exigências. Importa recordar, creio eu, como funcionam este tipo de ditadores: retrocedendo uns dez anos atrás, mais coisa menos coisa, Hafez al-Assad, pai de Bashar, teve no poder 30 anos (desta vez não escrevo os números por extenso pela razão simples de que eles têm de sobressair à vista das pessoas) e o seu filho, legítimo sucessor pensam alguns, está no poder há 10 anos. E como é genético de ditador, usam a repressão e a violência para abafar as revoltas, o que neste caso em particular – entenda-se: mais grave – leva Bashar al-Assad a recorrer às tropas para combater e travar o avanço dos rebeldes. Se morrem inocentes? Ele não quer saber. Direitos humanos? Não, obrigado.

Durante 30 anos, Hafez conseguiu a proeza de proibir a formação de qualquer partido de oposição e a participação de um partido da oposição numa eleição. E agora, com o filho, que mais não há senão desemprego elevadíssimo, condições de vida degradantes, liberdade frouxa, miséria? O país atravessou um estado de emergência criado em 1963 que perdurou até 2011, que são 48 anos da mais pura ditadura! Pois então, claro está a todos nós, que um país que tem um estado de emergência vigente durante um período de 48 anos dá tudo menos liberdade ao seu povo.

Continuará assim. O facto de estarem em Genebra, agora, com representantes não levará a nada num curto espaço de tempo. O governo quer ganhar tempo, matar e prender os que se atravessarem no caminho, e, acima de tudo, não vacilará para um governo transitório. Do outro lado, continuam a pedir uma intervenção e justiça, urgentemente.

Enquanto isso, morrem diariamente inocentes. Homens, mulheres. Crianças!

Álvaro Machado – 22:36 – 10-02-2014

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