capital liberta


há um ano atrás era como se a liberdade me fosse entregue, sinal de deus, disse eu consciência abaixo, enquanto percorria a cidade de lisboa como que à deriva e à descoberta do poeta que sentia em mim.

e como hei-de então de dizer, bem, não tem muito que dizer, as ruas enchiam-se de artistas por toda a parte, pintores que com o carvão nos dedos desgastados enalteciam a figura do senhor enternecida, figurantes estáticos que faziam lembrar uma estátua com grande importância, todos pintados, e apenas se moviam para agradecer a moeda que alguém, por acaso ou não, atirou, também a música clássica exsurgia, e logo os incontornáveis admiradores de mozart ou de chopin se aglomeravam, escutando com atenção os músicos de rua, animados, inspirados, cheios de deleite por fazer aquilo que mais gostam.

estas eram as ruas do chiado. e mais à frente o tejo. o rio que tanto lera em caeiro e no próprio pessoa. e, não sei explicar, mas algo nele era especial. a água que movia permitia uma contemplação justa dos sentidos e as virações permitiam sonhar que afinal ainda podemos, como vasco da gama, partir à descoberta do mundo, ali, ali mesmo, como os marinheiros fizeram anos atrás. e eles conquistaram-no... e havia este vento e esta água a escorrer... eles venceram.

bem, e comecei a escrever para relembrar os dias que passei na capital. mas, sobretudo, para relembrar um episódio especial. lembro-me como se tivesse acontecido agora mesmo: um desses artistas estáticos, que cheio de tinta branca segurava um pequeno arco de várias cores, para além de se identificar com mozart, parafraseou-me oscar wilde muito intensamente:

“se um homem faz da vida um uso artístico, o cérebro passa a ser o seu coração”.

Álvaro Machado - 19:47 - 18-03-2014

Comentários

Mensagens populares