Os Domingos de cidade.

Hoje é dia de recorrer ao armário, escolher a melhor roupa que lá temos, é verdade que tem pó e aparentemente está velha, mas é Domingo e ao Domingo qualquer um de nós o faz. Tão-só é assim o homem social, e é por isso que as ruas hoje se preenchem de vestes arrojadas, de ruído que vem da afluência de pessoas, mas ninguém olha para ninguém. Não é assim?

Uns pelos outros, mantêm a imagem, a postura social. Sentam-se, uns falam mais alto do que outros, é coisa natural por cá, têm que manter esse estatuto social que conquistaram, senão olhem para eles, oiçam-nos, aquelas conversas não têm nada, conteúdo qualquer, só são conversadas para os outros que passam ouvirem; outros, em tom mais baixo, preferem olhar em volta, ver quem são os outros clientes do café, mas não olham directamente, olham de lado, olham como quem olha só para desprezar, olham altivos, são eles então mais superiores.

Escondem-se uns dos outros. Sabendo, no entanto, que a presença dos outros lhes está na memória e que os afecta. Mas dizem que não, não, de maneira nenhuma, quem teve tal ideia absurda de o pensar e, pior ainda, de o escrever? Esta gente realmente vê coisas que não existem, olhem para eles, perfeitamente normais, cheios de pó nos casacos e nas camisas, cheios de sorrisos forçados e conversas vazias, cheios de razão porque hoje é Domingo e o Domingo é para saber aproveitar, ora no café, na esplanada da contemplação, ora à beira rio, onde tudo se concentra porque é comum concentrar-se.

E eu, na viagem de regresso, onde me senti melhor, mais livre, foi quando passei num pequeno espaço já com sombra, onde o rio passa muito calmamente e mais ninguém de permeio.

Álvaro Machado - 18:11 - 16-03-2014

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