Lúcido e triste



(Os pesadelos não me deixam dormir de noite.)

Não estarão agora mesmo, nesta madrugada infinita e longínqua de sentido, homens e mulheres abraçados em seu íntimo sentimento de paz, de calma, de sossego que, enternecido, desce pelos seus corpos num silêncio majestoso, sublime? Sim, todos estão assim, agora, agora mesmo… E estão porque o sentido é mesmo esse: eles não o terem, tende-o; não o saberem, mas, ainda assim, acharem aquela felicidade proveniente de uma ingenuidade que eu tanto invejo e não sei bem dizer por que também a não tenho. Não a mereço? Talvez, também.

Quem me dera também estar a dormir e, mais do que isso, a ter paz dentro de mim. Não ter a consciência da ingratidão que é termos nascido nem esta permanente e desvairada solidão, absolutamente incompreensível, que nos inquieta e nos torna depressivos até ao exaurir das nossas forças, isto é, se alguma vez as havia sentido. O que me há-de acalmar, então? O instinto de escrever noite adentro ao som de um violino sinistro que quase proclama a morte – sim, porque esse é o mundo imaginário que os escravos deste mundo real criam – até perder o fôlego e deixar-me desvanecer?

Triste vida, sinceramente. E eu que julguei estar predestinado para grandes feitos, os habituais que cada um de nós vai expandindo e ambicionando cada vez mais, sem nunca ter de baixar os preços nem verter uma única lágrima! Ah! O que é de mim, afinal? Que levo uma melancolia no meu passar, uma leviana mas duradoura tristeza, um sentido destrutivo e obscuro, uma agonia pelas coisas exógenas que por aí circundam? Respondam-me! Senão eu acabo comigo, acabo de vez – fecho-me num quarto, escrevo ainda mais, sem parar, sem reflectir se é correcto ou se não o é, se é tolice minha ou de Deus, que não teve piedade de mim!

Mas este texto, afinal, é só mais uma cobardia minha. É o meu refúgio, porque o mundo em que vivo é demasiado mau… demasiado hipócrita… demasiado tenebroso para eu me poder juntar nele e fazer de conta que sou feliz lá…

Álvaro Machado - 23:13 - 17-04-2014

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