Em nome de nada e de ninguém: mea culpa!


Mea culpa, meu senhor, mea culpa… que quando se perde o amor-próprio não há mais nada a fazer senão aceitar que estamos condenados. Condenados a quê, perguntar-me-á receoso talvez. Pois tenho a dizer-lhe que começa aos poucos a alastrar-se, primeiro projectamos na cabeça, segundo deixamo-nos levar nessa ideia, e terceiro, lentamente, vai-se arrastando para o quotidiano, para as conversas, para as mais simples decisões que havemos de tomar… faço-me entender?

Como não? Dê-se por felizardo, nesse caso, meu senhor. Sinal é que em todos os anos que passou nunca teve um tremendo suspiro que lhe fizesse dizer: estou condenado.

Também eu já fui assim, sabe disso? Eu já fui assim… Já tive nos meus dias motivos para lutar, motivos para ser mais do que havia sido no dia anterior, quanto mais difícil mais eu me erguia e mais ripostava, mas agora… oh, agora que é feito de mim? Um desgraçado, senhor. Pura e simplesmente um vadio em que o sol esbate e a noite esfria e o universo inteiro atormenta, não mais que isso. Agora, o meu andar e o meu dia-a-dia enchem-se de incongruências, de uma mágoa tão natural que, por momentos, me parece justa de sentir… será que mereço isto?

Mereço. Acordo, não me olho ao espelho, não tomo conta da aparência, nunca voltarei a tomar conta disso, isso cansa-me, torna-me fútil, inútil!

Mea culpa, senhor, mea culpa… que perdi o amor-próprio e a vontade de viver. Chega.

Álvaro Machado - 19:36 - 27-06-2014

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