Errante.


Um desespero momentâneo? Posso contar-lhe a essência que o leva a entender tal coisa. Pois bem, um desespero é sempre, como sabe, um enorme sufoco, uma enorme aflição que nos prende e nos tende a arrastar para a maldição. Para aquela cave funda onde nós – indignados e intolerados enquanto raça racional – nos abstemos de viver.

E o meu desespero – para além de ser desespero – é momentâneo. É momentâneo porque acabou de me consumir por dentro no meu regresso a casa. Só quando se deparou, de novo, a minha alma sozinha e reflectiu aquela mágoa ténue, que eu nunca disse bem que tinha, é que ele surgiu. Cada passo que dava em frente me esbatia com tal consciência que eu preferia morrer (sim, preferia mesmo morrer!) do que o dar. Cada passo dado e a tortura cada vez maior. Era o som seco dos sapatos a pisar o chão e depois o eco que sucumbia no horizonte como se nada disto fosse real ou como se eu não fosse humano…

Depois cheguei a deitar-me, entontecido, desgastado e triste sobre a minha cama. Perdi os sentidos, mas numa das minhas divagações oníricas ia construindo realmente grandes obras-primas, não me perguntem como nem porquê, mas sentia-o. Até que olhei ao redor de mim, do meu quarto, do meu coração leve, do meu chão… e deixei no ar o último suspiro: 

«Vivi sempre triste, vivi sempre só. 
Longe de todos, longe até de mim. 
Sofri sempre muito. E sofri com o universo em minha volta.
O alheio a mim, meu também era.
O homem passa, o homem erra,
E eu cheguei ao fim…»

Álvaro Machado - 20:57 - 12-05-2014

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