mutilação


quando mais sei que existo mais sei que estou só. cada virar de esquina, cada pessoa para além desse indeciso lugar é uma nostalgia alheia da qual nunca fiz parte.
porque a noite é isso mesmo, uma vez perdidos nela, nunca mais havemos de sair dela. até que tudo em volta que surja - ou que exista - é um pensamento a desmoronar, uma vida vã, uma queda num abismo eterno... sensação de cair e ir caindo p'ra sempre.

sei que sou senhor de mim e não tenho fé. talvez por isso saiba que mereço sofrer vadio no espaço que habito, com nenhuma sensação que realmente ame e me prenda, com toda e mais alguma necessidade de fugir, para bem longe, como um cobarde que tudo teme.
e inda assim creio num universo frio, distante e incompreensível; deposito nele toda a minha esperança - de um dia poder vir a encontrar um recanto por aí, sobre meus sentidos, sobre meu coração incansável, sobre meu sonho inquieto...

mas no fundo nem eu sei o que desejo, que paisagem, que sítio, que mundo vislumbro para mim. é só uma indecisão, compreendam-me. uma indecisão que tem feito de mim um indeciso suspendido em vácuo pelas horas que ainda vou permanecendo, mesmo não querendo permanecer.

Álvaro Machado - 02:39 - 05-07-2014

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