normalidade


fazem-te acreditar que tudo é possível, eu bem sei disso. dizem-te que isto é bom, que aquilo é mau, que o correcto é o sim e o errado é o não.
fazem-te pertencer a uma multidão homogénea, dizem-te que o nascimento é assim, que agora pertences aqui e que mais tarde morrerás.

afinal, é nisto em que todos vós acreditais, não é? os seres para a morte - como disse ricardo reis. é qualquer coisa predestinada, porra.

de que me vale então outro caminho? aquele caminho solitário até à igreja obscura? a ferida abre cada vez mais. as pessoas são cada vez menos. os sentidos não se vêem. os remorsos amontoam-se. a morte, pela primeira vez, é desejada.

que me resta? toda a crença que há em volta do mundo não me comove; nenhuma dessas aspirações à imortalidade e à riqueza me enchem o coração... nada do que me possam dar me fará sentir melhor: nem afecto, nem amor, nem pequenas paixões contraídas estupidamente...

restam-me sons vazios de ecos atónitos. restam-me memórias, coisas muito dispersas que nunca mais voltarão para junto de mim... restam-me pedaços de consciência para questionar o universo, vácuo de fel...

Álvaro Machado - 00:15 - 25-08-2014

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