O é que foi

Pleno das minhas capacidades, lúcido e energético, invoco uma arrogância intelectual diante de mim para provar «que sou sublime», tal como tu provaste outrora, meu estimado Álvaro de Campos.
Provaste-o; e tanto ignóbil ousou ignorar o emergir do teu talento! Mas eu, passados todos estes anos, vim a descobrir-te na essência de poeta melancólico e tenebroso, vim a interceptar a dor obscura que ensaiaste nos teus poemas e que parece tão imperceptível a esses moribundos inúteis...

Pois agora, amigo Campos, tomou-se-me essa amargura tal qual tomou em ti por essas ruas de Lisboa, no século passado. Como descrever: achámo-nos miseráveis, deambulantes que não merecem viver; depois dessa consciência lancinante, culpámo-nos veemente por teremos nascido e por termos erraticamente durado no tempo.

E no fim, perante o pulsar dos deuses entusiastas, eis-nos numa rocking-chair, absortos, talvez comovidos, já desinteressados sobre o nosso destino, convictos de que realmente somos sublimes!

Álvaro Machado - 01:00 - 21-03-2014

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