Enquanto caminhar, caminho.


Estava de noite, vagueei até se me falhar o propósito, já nada faria sentido, a vida atraiçoara-me numa covardia tamanha e eu deixei-me ir, deixei-me ir inocentemente...

Não sei nada, e é mesmo isso que me pesa brutalmente no coração: o não saber nada de mim... Parece que o passar dos anos menos faz com que melhor me conheça, por sinal o contrário, cada vez o surgir mais de dúvidas, de indefinições, e por isso é que divago, divago noites e noites a pé e sem rota nenhuma, para duvidar da minha própria existência e do meu propósito...

Por favor, alguém, alguém que me acorde. Não sou gente, não me sinto gente. Sou excessivamente prolixo quanto à existência, quanto a Deus também, pois não o amo nem tampouco afecto lhe nutro; senão um desprezo tamanho para os seus feitos e para com os do Olimpo onde carregam o berço da humanidade!...

Ah, que nada vale esta revolta em mim. Nem mesmo eu o valho, sei-o perfeitamente. Mas soubessem vós o que eu trago cá dentro, o que me faz ferver o sangue, balbuciar loucos versos, tremer de intensidade, calar-me em sofrimento! Ah, mas vós não sabeis que eu tenho em mim o peso das gerações, sou-os  todos sem excepção e transporto-os para os meus versos destrutivos enquanto caminho só nessa vida fora...

Álvaro Machado - 00:22 - 30-01-2015

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