Indignação popular: morreu um gato.


O
país está ao rubro. Enquanto os gregos continuam a ser, ao olho dos credores, os inesperados convidados para uma festa de um amigo milionário, em Portugal a coisa está um tanto mais agitada: o Chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, é distinguido como embaixador da juventude ibero-americano e um gato queimado vivo em Mourão gera uma massiva indignação pelas redes sociais.

Quanto ao primeiro tema, creio haver muito pouco a dizer. Conhecemos Cavaco Silva há demasiados anos e todos sabemos da sua afincada luta ao lado dos mais jovens nas mais diversas situações - manifestações, festas, até mesmo na proximidade que lhes nutre aquando da sua visita ao ensino superior. O muito estranho desta situação, e vós certamente já deste conta disso, é o atraso da tal distinção.

Agora quanto à reminiscência dos tempos da inquisição tidos em Mourão já tenho um pouco mais a dizer. Desde já, repugnar veemente tal acto. Um povo que dadas todas as circunstâncias e todas as histórias do seu país continuar a cometer atrocidades com tamanha irresponsabilidade é intolerável.
Todavia, uma notícia repugnável transportou-se, seguidamente, para uma avalanche de enxovalhos nas redes sociais e, como é sabido, quando é o zé povinho a lançar críticas aos infractores a coisa passa a ser um tanto desajustada aos padrões de racionalidade e de realidade. Passou de um simples acto reprovável para um amontoar de vozes que lançaram injúrias pesadas - até mesmo a morte e o sofrimento impiedosos - aos ditos 'assassinos'.

Ora, pois bem, não se esquecem essas pessoas de outro tipo de crimes bem mais graves do que a morte de um gato? Por exemplo, a escravidão laboral que assistimos desinteressadamente na China? Onde os ditos 'trabalhadores' de todas as gerações, pois é de pequenino que se torce o pepino e por isso hão-de logo trabalhar exaustivamente, se mantém em pé e a trabalhar para além das 16 horas diárias?
Ou não será um tanto mais chocante os sucessivos bombardeamentos e guerras civis no Médio Oriente onde morrem milhares de inocentes e onde a outra metade se refugia para países que certamente serão tudo menos acolhedores na sua chegada? São questões um tanto complexas que a maioria tende por ignorar, visto tratar-se de uma notícia com mais caracteres do que aquelas a que hão-de estar habituados.

O que quererei eu dizer-vos com isto? Creio que nada, ou quase nada. Apenas uma chamada de atenção: quando decidirem criar petições online sobre a morte de um gato, pensem primeiro em criar petições online onde se insurjam contra a frequente violação dos direitos humanos um pouco por todo o mundo, onde os SERES HUMANOS sofrem exploração, onde vivem em condições degradantes e onde muitos outros morrem porque um doido de um autoritário qualquer lhes bombardeou a casa e a família.
Os animais também têm as lutas deles na selva, e os «mais indefesos», como li por alguns comentários online, são presas fáceis para os grandes predadores. Quererão criar outra petição contra a lei da natureza?

Não se acomodem com o que foi feito ao gato, mas também não se tornei histéricos crónicos quando no vosso mundo o que mais há é gente a sofrer sem nunca ter feito mal a ninguém.

Álvaro Machado - 00:19 - 27-06-2015

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