Inimitável

Lembro-me que estava vazio, nada se ansiava, e nos sonhos ninguém viera nunca mais... Depois o mundo desabou, resto eu, uns quantos versos, a noite vã...

Mas sabem que importante nem é os lugares que percorremos, importante é prevalecer autênticos, nunca uma mera imitação, nunca um a mais na corrente dos inúteis. Assim, invocando esse dever para mim, sento-me nas amarguras da vida, percorro-as numa inquietude muito própria, e levo um sentido além do sentido da vida.

Jamais escreverei por vontade de ecos inaudíveis, por ânsia de vingar numa fama repleta de falsidade, e, vê-de bem, jamais o meu nome reluzirá num romance nefasto que queira agradar ao leitor; se quisesse honrar o meu legado, seria o aterrador medo que trago, a escuridão torpe que se perpetua, a necessidade de romper com a humanidade inteira, o grito de gerações revoltadas de onde se faria a génese da minha obra.

Álvaro Machado - 23:22 - 26-06-2015