Artista? Está ao alcance de muito poucos.


Esses versos no cimo da secretária são meus, criei-os quando uma atracção súbita por tudo o que não era compreensível preencheu o meu coração. Levou-o à loucura. Sei que me olhas de lado, os papéis estão descuidados, manchados ainda de tinta, e as anotações na parede são, toda elas, um absurdo.

Não tenho de ser de outra forma. Sou assim, sou completamente doido, estou imbuído de incertezas, de dúvidas existenciais, de suposições calorosas sobre outros universos frios e longínquos.

Vê bem: não procuro a fama honrosa dos artistas por quem me cruzo no café da esquina, onde os gestos, não sendo genuínos, são de uma mesquinhez incontrolável; não anseio um livro meu a circular por terra quando nenhum leitor seria apaixonado a ler nem tampouco entendedor de palavras tão sentidas...

Ouve-me atentamente, é verdade o que te digo, os homens são de uma hipocrisia tamanha - enchem salas, auditórios, cafés, e hão-de ser surdos e cegos para a arte, hão-de estar sempre à margem da génese artística, hão-de achar outro nome para a ignorância deles, e outros, mais além, hão-de aplaudir estes, hão-de vir com sinceros agradecimentos por tamanha qualidade da obra.

É o mundo, o mundo é feito assim, à imagem de Deus, atiram alguns. Outros, não se dignando a confirmar ou a desmentir tal teoria, são neutros.

Álvaro Machado - 02:52 - 16-08-2015

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