Servo dos sentidos racionais

As cordas do meu coração rompem numa melodia inconstante, servo dos sentidos racionais, erróneo na valsa da perdição...

No altar, o padre torna-se subitamente o maestro de todo o sempre; escutam-no atentamente os crentes, os que não podem agarrar mais nada senão uma voz, uma melodia do reino dos céus, um breve passar longínquo da realidade que todos os dias os assombra.

Diz-nos que a liberdade da alma só será alcançada se crermos em Deus, se lhe prestarmos devoção, e de tão eloquente do cimo do altar se torna sem o saber, tão mediático com uma batina branca, tão senhor do universo por apregoar lições de vida e de moral... Creio, muito sinceramente, que ele mesmo desconhecia tamanha virtude, tamanho poder naquilo que fizera.

Ouviam-no estáticos, atentos, corajosos. Cala-te, senão vamos para o inferno e o senhor o perdão não invocará em nós, disse um homem de barbas revolucionárias, rosto cravado de amargura, pele áspera e olhar cerrado. Calou-se de imediato a mulher, ficara mal vista por entre os presentes, e à noite seria falada por todos da terra.

Último soar do sino, tudo se esvaziou: o meu coração ficara mais leve. Não presto devoção a ninguém nem troco as minhas incertezas por coisa nenhuma.
Fizesse isso e hoje não restaria nada de mim.

Álvaro Machado - 16:41 - 04-08-2015

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