O povo votou, a Coligação venceu.


Dia anterior às eleições.


No dia anterior às eleições legislativas o café mantinha-se aceso, os velhotes gritavam até à exaustão o que haviam sofrido nos últimos quatro anos, e a Maria - mulher que indubitavelmente os atura - mostrava-se, para além de preocupada, bastante atónita.
Pois bem, a todos os intervenientes desse pequeno desabafo (ou debate, como lhe queiram chamar), algo de muito estranho ir-se-ia, pouco a pouco, escrutinar: falavam mal do governo, alguns abominavam-no mesmo, mas mantinham-se receosos face aos possíveis sucessores. Talvez o certo, o mais sensato a fazer seria, assim sendo, manter estes (e não outros!) em funções. Precisa o país de estabilidade e não de doidos varridos, claro está.

Dia de eleições.

Confesso-vos: levantei-me entusiasmadíssimo, como se estivesse ao meu alcance mudar o rumo do meu país e finalmente colocar Portugal na rota de Eldorado. Lavei a cara, vesti o meu blazer azul escuro e precipitei-me para as urnas. Estava um dia chuvoso, com muito vento e o céu cravado de nuvens cinzentas.
Acabei de votar. Sinto-me pleno - votei em consciência, votei naquilo que tenho para mim como necessário e, acima de tudo, estou convicto. O resto cabe ao povo decidir.

Resultado eleitoral.

 a) PSD-CDS/PP (PáF)

São os grandes vencedores da noite. Ainda há uns meses atrás, Passos Coelho e Paulo Portas, rir-se-iam exaustivamente se lhes dissessem que tinham chances de vencer. Mas a verdade é que venceram, ainda que sem uma maioria absoluta - como pediam - e onde, por sinal, a esquerda poderá vir a tirar vantagem no parlamento aquando de uma moção de confiança.
Contudo, o povo decidiu nas urnas e mesmo estes quatro anos aterradores de austeridade violentíssima não os afastou na cena política como se esperaria. Venceram, claramente, António Costa e o Partido Socialista.

b) PS 

Eis que o inesperado, o impossível, o inimaginável acontece: António Costa, que nas europeias disse não contentar-se com "vitórias pequeninas", é o grande derrotado desta noite. Surpreendido? Tenho a dizer-vos que nem por um segundo duvidei que seria derrotado. Apesar de ter todos os argumentos a seu favor para derrotar um governo de coligação onde abundou austeridade, o líder do PS preferiu optar por uma campanha ruinosa, sem interesse em captar votos ao centro, (in)seguro do seu programa eleitoral - que parecia mesmo desconhecer, diga-se de passagem - e sem nunca se ter conseguido afirmar como «o grande líder da oposição».
Agora não venham os membros do PS dizer que se podem tirar daqui bons resultados nem aspectos positivos. São os grandes derrotados destas eleições de 2015.

c) BE e CDU

Catarina Martins, porta-voz do bloco, acaba por ser uma das surpresas desta noite por vários motivos: em primeiro lugar, conseguiu revitalizar um partido que vinha, até então, a desintegrar-se em diversas facções; em segundo lugar, conseguiu gerir bem a sua campanha económica e politicamente de forma singular, atacou firmemente o governo e deu "um chega para lá" ao PS para que não lhe fugisse eleitorado; por último, conseguiu ultrapassar a CDU mesmo que o cenário político sustentasse, efectivamente, o inverso. Está de parabéns.
Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, manteve-se na linha da frente de ataque aos socialistas e a António Costa, precavendo-se de uma possível fuga do seu eleitorado face ao voto útil. Manteve-se, como de habitual, longe de possíveis consensos com outros partidos de esquerda e, como disse anteriormente, com o PS. «Orgulhosamente sós» parece o dilema dos comunistas desde sempre e para sempre. Em suma, tiveram um bom resultado eleitoral.

Álvaro Machado - 01:05 - 05-10-2015

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