Os eleitores que não sabem ser eleitores

Os valores da democracia são aquilo que hoje nos faz aspirar - livres e plenos - a um mundo melhor, mais justo e de mãos dadas com o progresso económico, social e político. E por mais que esses valores muitas vezes sejam corruptíveis com más intenções, por mais que as lacunas se manifestem, já dizia Churchill: "Democracy is the worst form of government, except for all the others.".

Sendo-vos sincero, não tinha noção, até há bem pouco tempo, que os mecanismos democráticos (isto é, colocá-los efectivamente em acção) mexia de maneira tão negativa com certas pessoas. Não sabia, e desculpai-me tamanha ignorância, que se pudessem criar rivalidades não no termo próprio da palavra onde os rivais se devem respeitar, mas no termo inverso em que se possam criar distâncias somente por imperar a discordância, a alternativa, o caminho p'ra outras realidades.

Mas deixai-me focar no tema essencial: os eleitores não sabem ser eleitores. Perguntai vós porquê. A resposta é óbvia em parte, noutra é um tanto aterradora. Vejamos.

1. O eleitor que vota num certo caminho, mas que não quis saber de outro.

Este é, talvez, dos casos mais paradigmáticos da nossa democracia - seja ela no plano nacional ou no plano regional. Muita gente vota por comodismo, vota porque já anteriormente tinha votado neste ou naquele partido, nesta ou naquela pessoa. Entretanto, passaram mais uns anos, realidades e preocupações diferentes surgiram, enquanto que outras se tornaram obsoletas, é verdade, mas que importa isso para eles?

Estarão condicionados. O seu mecanismo racional e o seu valor crítico, pura e simplesmente, não existem. São como que pertencentes a uma manada onde nunca se contestou o líder pelas suas acções.

2. O eleitor que não vota porque já não lhe interessa votar.

É o desejo de qualquer ditador. Pelo menos, sê-lo-ia para Salazar, para Franco ou para Mussolini. E sê-lo-ia por dois motivos: primeiro, é de facto um elemento essencial em qualquer sistema anti-democrático não ter vozes que se oponham ao regime e que possam, assim, oferecer outras soluções, outros caminhos opostos ao actual; segundo, à falta de existência dessas vozes, perdura um culto abléptico do povo ao seu líder, sem reivindicar, mas somente a aclamá-lo.

3. O eleitor que ouve todos, que reúne informação e vota em consciência.

São os mais desejados e aqueles que já deviam ser em maioria no século XXI. Com estes nem me incomodo, muito sinceramente, se são ou não de acordo com a minha ideologia, se votam ou não no mesmo partido que eu, se preferem outro caminho diferente do meu. Sabem porquê? Porque, estes sim, são eleitores livres e plenos de si, que votam conhecedores da realidade do seu país - repito: a nível nacional e regional - e que procuram, sobretudo, o melhor para o bem comum, aliados a uma consciência e a um conhecimento de causa que lhes permita ter discernimento nas urnas.

Concluindo, os três tipos de eleitores são quem vai definindo os caminhos de Portugal e dos portugueses. Certos eleitores revoltam-me. Outros dão-me esperança.

Álvaro Machado - 17:12 - 27-10-2015

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