Varoufakis na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

São duas horas e alguns minutos. O sabor do café ainda não sucumbiu totalmente, mas uma ânsia incessante começa a alastrar por todos os universitários: não tarda, o auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra irá receber o emblemático Yanis Varoufakis.
Durante este impasse, esta espera que pareciam longos meses no deserto, começavam a idealizar-se hipotéticos cenários. Virá discursar sobre todas aquelas reuniões do Eurogrupo, atiravam uns, convictos; ele não fará mais que uma breve introdução sobre esse tema, depois falará abertamente sobre o que pensa da crise, concretizavam outros, repletos de confiança.
A verdade é que, entretanto, a velha cabra soa quatro horas. Nesse mesmo instante, Varoufakis desce as escadarias do auditório com uma ligeireza que lhe é própria. Uma ovação, um encher frenético de palmas, é assim que o recebemos. Começa o seu discurso: "É bom voltar a casa", disse.


Democratising the Eurozone

i) Como seria de esperar, o percurso de Varoufakis enquanto Ministro das Finanças não teria vida fácil no Eurogrupo, sobretudo porque as suas ideias estariam nos antípodas da grande maioria dos restantes ministros das finanças. Fez-nos por mostrar a falta de transparência e de abertura entre os demais membros quando lhes avisou do referendo que estaria para acontecer na Grécia, como se fosse antidemocrático e completamente descabido chamar o povo grego a decidir se queriam mais austeridade ou não.

O facto de nem tampouco escutarem as suas propostas económicas (como disse, ironicamente, "tive a audácia de falar sobre economia no Eurogrupo"), de reprovarem intelectualmente mecanismos democráticos como o referendo ou simplesmente negarem discutir as regras - sim, porque o fundamento de um verdadeiro pensador será o nunca se conformar com as regras já pré-estabelecidas sem as questionar, sem procurar modificá-las e melhorá-las, por conseguinte - por estas serem regras.

Dizia Yanis: "Podemos discutir as regras?"
E, outro senhor, dizia-lhe: "Não, porque são as regras.".

Assim, ficámos com uma percepção (não que já não a tivéssemos antes) de uma Europa que tem tudo menos união, em que tenta, efectivamente, menosprezar países mais vulneráveis como a Grécia e como Portugal com medidas impraticáveis de empobrecimento extremo e de crescimento nulo.

Tudo menos um político.

Recordo-me perfeitamente: quando o "não" na Grécia venceu e, mesmo assim, Varoufakis se demitiu, os portugueses - na sua imensa inteligência - recorriam a um sarcasmo suspeito. E faziam-no sem saber os motivos dessa decisão.

- "Porque abandonou Alexis Tsipras?" - perguntava uma senhora, na plateia.

- "Eu não o abandonei, continuámos a ser amigos. Mas, como tudo na vida, há que saber separar a amizade da política. Na noite em que o "não" venceu na Grécia, Tsipras ligou-me e pediu-me que me dirigisse ao seu escritório. Disse-me que iria assinar o Memorando com os credores, mesmo com os resultados claros do referendo. Respeitei a sua decisão, mas levei avante a minha demissão. Não faço aquilo em que não acredito."

Este senhor nunca deixou de lutar pelo povo grego. Nunca os abandonou, fosse com quem fosse que estivesse reunido. Infelizmente, o poder, a vida política, não é um oásis para gente séria e integra como é Varoufakis. Uma vénia a este grande homem!

Álvaro Machado - 22:02 - 22-10-2015


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