Portugal e o futuro arco governativo

Lembro-me de que, certo dia, Rui Costa dizia aos jornalistas "Sobre mim muito se escreve e pouco se acerta". Hoje, essa frase, é o que melhor retrata o estado da política portuguesa e das manifestações político-partidárias que se propagam nas redes sociais, ressalvando, porém, que existem umas mais fora de rota do que outras. Vejamos:

1. Parece-me indiscutível e absolutamente consensual que estejamos a viver momentos atípicos na nossa democracia. A coligação do PàF venceu, os restantes perderam. Mas uma coisa também é evidente: perderam a maioria absoluta na Assembleia da República e perderam 700 mil votos dos portugueses.
Assim, e visto que os eleitores elegem deputados e não primeiros-ministros (sim, há uns quantos que acham mesmo que elegeram um primeiro-ministro), estes têm a função de representar no parlamento os que lhes confiaram o voto. Tudo claro até aqui? Pois bem, os deputados decidiram apresentar uma moção de rejeição a este governo minoritário, ou seja, por outras palavras foi-lhes dito que não tinham condições para governar. Sempre existiu este mecanismo, sempre recorreram a ele os demais partidos.

2. Verdade é também que o Partido Socialista e António Costa, caso venham a formar governo, terão uma missão complicadíssima para garantir estabilidade governativa, que muitas das medidas que vêem como um factor decisivo para fomentar a economia pode ter exactamente o efeito inverso e causar ainda mais estagnação. Se eu fosse deputado do PSD ou do CDS, estes seriam os meus argumentos, estas seriam as minhas bandeiras.
O que vejo, infelizmente, são argumentos baseados no facto de que esta situação não tinha precedentes, que se deveria manter a tradição (em democracia não existe tradição, isso revelaria uma imenso conformismo na possibilidade de mudança) e colocar o rótulo de estalinistas e leninistas a tudo o que é de esquerda. A isto eu chamo política fraca, medíocre e infame.

3. Perguntam-se agora sobre o meu lado, no meio disto tudo. É simples, na verdade. Os últimos quatros anos do governo PSD/CDS não tiveram quase nada de benéfico para os seus cidadãos, preferiram como único caminho cortar salários, pensões, aumentar impostos, subir o IVA, e esquecerem-se do essencial: as reformas estruturais que Portugal tanto carece.
Posto isto, não tenho certezas absolutas de que um governo liderado por António Costa terá um futuro risonho pela frente, aliás, tenho as minhas duvidas; todavia, a minha certeza é, efectivamente, de não querer continuar com um governo que subiu a dívida pública, manteve as suas despesas altíssimas, deixou a geração mais qualificada de jovens emigrar e deixou o desemprego em números recorde.

O tempo ditará o nosso futuro, as tempestades e os dias de sol, as nossas desavenças e os nossos momentos de glória. E eu tenho para mim o que tinham os grandes marinheiros aquando de se fazerem ao mar: um homem que vai navegar não pensa no naufrágio, mas somente ao seu destino chegar.

Álvaro Machado - 20:10 - 11-11-2015

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