Perspectiva da cafeína

Se há coisa que me cative de uma forma quase inexplicável é a proximidade de alguém - esse alguém que mesmo não nos sendo nada nos é tudo. Assim foi o senhor que me serviu o café inda agora, senti ser-me familiar numa momentânea impressão, serviu-me da melhor forma possível e nunca deixando de sorrir. Isso é o universo inteiro.

Enquanto isso, as pessoas iam chegando e partindo de seguida, como manda o quotidiano e a lei da natureza, e eu permaneci quieto, expectante, contemplativo. Como de habitual, é nos cafés que os pensamentos da sociedade giram unilateralmente num quase-sentido, o sentido de nada ter, de nada ser. Ainda se manifestam preocupados, e até solidários, com os recentes acontecimentos em Paris; e manifestam-se sobretudo com alguma ironia sobre a Síria, Dou-lhe, se quiser, uma passagem no próximo avião para lá, disse, sorrindo, o senhor do café.

Vejo-me forçado a aceitar, já que lhe saiu pouco da algibeira, disparatou o homem com quem conversava, soltando uma gargalhada que se propagou na esplanada. E isso, essa conversa de café, elevou-os a senhores de todo o universo nesse instante, nesse instante preciso eles seriam, nada mais nada menos, que a razão da humanidade.

Álvaro Machado - 17h20 - 16-11-2015

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