Entrevista a José Sócrates - Parte I




Sabíamos, à partida, que vislumbrar-se-iam dois cenários possíveis logo após a detenção do Engº José Sócrates: ou por um lado seria realmente culpado dos crimes que lhe seriam apontados, e a acusação de forma transparente e inequívoca o provasse sem réstia de dúvida, ou então ele iria sair em sua defesa disparando contra todos os inimigos ao dar entrevistas atrás de entrevistas até limpar o seu nome, ou o que resta dele.

Pois bem, passados 11 meses após estar em prisão preventiva, após as legislativas terem cessado e após o novo governo ter entrado em funções, José Sócrates não perdeu tempo. Está em directo na TVI, no jornal da noite, numa entrevista que será divida em duas partes - uma que foi ontem, segunda-feira, e outra que é hoje, terça-feira.

"Um ano depois nem apresentam as provas nem os factos. E perguntar-me-ão porque é que o fazem? Porque não têm as provas, como não as tiveram na altura e como nunca as irão ter pela simples razão de que é impossível provar aquilo que nunca aconteceu", atirou o antigo primeiro-ministro mal teve oportunidade de tomar o dom da palavra. Independentemente da razão que possa ter ou não ter no caso concreto, a verdade é incontornável: não podemos chegar a nenhuma conclusão se não tivermos, por parte da justiça, uma acusação formal remetida no seu tempo devido, baseada numa argumentação sólida, bem fundamentada e congruente. Creio ser isso um verdadeiro Estado de Direito Democrático, como, aliás, o próprio repetiu exaustivamente ao longo da entrevista.

Não tomando quaisquer partidos aqui, tomo, sendo regra básica e fundamental do direito, a presunção da inocência como um direito intocável e não passível de interpretações. Sim, a opinião pública, seja ela feita através da comunicação social ou das redes sociais, tornou a imagem de Sócrates num mártir a quem deva a condenação fazer-se justamente com base em rumores, ódios pessoais, sentimentos de vingança e atritos recalcados, pois que é o julgamento do povozinho senão feito nesse termos?

Lamento, meus caros, mas se ele é culpado - e se o for repugno-o também eu peremptoriamente - tê-lo-ão de submeter a um tribunal, com uma acusação bem definida e com provas concretas. Façam isso para todos os casos da justiça, não para este, mas para todos, visto que devemos assegurar a nossa justiça pelos pilares da igualdade, da credibilidade e da verdade.
Somos livres. Podemos não gostar do José Sócrates. Podemos gostar. Pode até ser-nos completamente indiferente. O que não podemos é conceber achar-se justo que alguém, seja quem for, possa ter a vida pessoal e profissional completamente arruinadas e com graves repercussões somente por ter sido levada a cabo uma prisão preventiva de um ano, sem acusação formal, mas com "fortes indícios". Acusem-no, sejam transparentes. Ele que vá a tribunal e que se defenda como qualquer cidadão tem o direito.

Não façam por viver em especulação e criticar por criticar. Os tempos da inquisição já lá vão, sejamos racionais e utilizemos os métodos legais para definir a nossa justiça.

Álvaro Machado - 22h42 - 15-12-2015

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