França recua com Le Pen, Venezuela avança sem Maduro





"Os franceses acabam de dizer que conquistaram a sua liberdade", atirou Marine Le Pen, esta segunda-feira, quando o Partido da Frente Nacional consegue, ainda que à primeira volta, resultados históricos, tenham eles as repercussões que tiverem para o futuro. Pois bem, analisemos:

1. A FN concorreu apenas a alguns municípios franceses, 570 sendo mais preciso, num universo de 36 mil. Em certos municípios acabou mesmo por ser a segunda força politica, disputando-a com o partido de direita sarkozysta, a UMP, atirando, desta feita, os socialistas para o terceiro lugar.
O seu crescendo tem sido de tal ordem notório que na segunda maior cidade francesa, Marselha, ficaram somente atrás da UMP.

2. Ainda não ficámos a saber o futuro, pois o sistema de eleições autárquicas em França é um sistema maioritário a duas voltas, mas acabámos por ter uma pequena noção: a Europa dos tempos ditatoriais não está assim tão longínqua nem os seus propósitos findaram milagrosamente. Cautela, muita cautela.

3. Concluo, por fim, esta viagem à terra de Baudelaire (para quem o aprecia na sua condição de um dos maiores escritores do todo o sempre) com uma pequena alusão à ideologia político-partidária destes senhores: defendem o proteccionismo económico como modelo a seguir, opõem-se veemente à imigração dos não-europeus, apoiam deveras a deportação de imigrantes ilegais, criminosos e desempregados (sabe-se lá com que métodos, mas suspeita-se); a saída da Zona Euro é outro dos frutos proibidos da extrema-direita, bem como irem contra a concessão da cidadania múltipla.
Sim, foram os franceses, parte deles, quem votou em Le Pen.


“Vimos com a nossa moral, com a nossa ética, reconhecer estes resultados adversos, aceitá-los e dizer à Venezuela que a Constituição e a democracia triunfaram”, disse Nicolas Maduro, após ter sido derrotado nas urnas e perdendo para a Mesa da Unidade Democrática (MUD) a sua maioria parlamentar. Importante ainda ressalvar alguns aspectos, internos e externos, respectivamente:

1. Apesar deste resultado histórico, que marca o fim do chavismo de forma peremptória, ainda há alguns "ses" dos preceitos constitucionais venezuelanos, nomeadamente os que permitem a Maduro legislar sob forma de decreto sem ter de passar pelo Parlamento. Pode, assim, legislar até dia 31 de Dezembro deste ano e renunciar ao cargo tão facilmente não me parece o seu estilo.

2. Sendo o próprio parlamento a ter-lhe colocado tais poderes nas mãos, quando eram maioria, o mesmo pode vir a tornar-se hábito pela insuficiência dos 99 lugares conquistados da oposição, não formando, desta feita, uma maioria parlamentar qualificada. O futuro nos dirá.

3. O Partido Comunista Português, para meu espanto, continua a mostrar-se solidário com regimes ditatoriais que em nada se equiparam aos valores democráticos, baseados no respeito pelos direitos humanos e na progressão social, económica e cultural. Tenham vergonha.

Álvaro Machado - 20h30 - 08-12-2015

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