Os deputados que votaram contra o Orçamento Rectificativo

A questão parece absurda e perfeitamente desapropriada, compreendo. Compreendo também que seja óbvia demais para eu começar a escrever um artigo de opinião sobre a mesma. Ainda assim, permitam-me perguntar-vos: o que é ser-se deputado no órgão máximo da nossa democracia em Portugal?
Se tivermos em atenção o caso do BANIF, empresa que em bom tempo deu comida a muita gente e encheu o papo a outros tantos, talvez a resposta tenda a ser menos complexa. Vejamos, partido por partido:

1) BE, PCP e Verdes.

Dão a cara pelo país. Enfrentam os problemas de frente como nem David o fizera com tanta bravura quando se viu perante o gigante Golias. Estejamos de consciência tranquila, salvar-nos-ão de pronto.  Sim, o caso do BANIF é um caso atípico – aí preferiram esquecer-se de todos vós, porque a solução não se lhes enchia as medidas, não vá Golias regressar ao activo e levá-los abaixo da terra.
Faz-me lembrar outro episódio, também atípico claro, que os mesmos proporcionaram aquando da vinda da troika a Portugal, em 2011. Se bem se recordam, nenhum destes partidos aceitou reunir-se com as entidades europeias. Percebe-se. Quem quer dar a cara pelo país e pelos portugueses quando só fazemos disparates?

2) CDS-PP

Não falámos de um partido qualquer. Falámos de um partido que marca veemente a sua posição – seja ela dentro ou fora do governo. Em 2011, a missão e o alvo estavam focados: José Sócrates tinha de cair.
Após dar entrada no governo, Paulo Portas representou-nos com excelência. Ministro dos Negócios Estrangeiros pomposo e sorridente. Lá ia ele, país a país, renovar o Portugal já envelhecido, atraindo investimento nas feiras mais populares. Muito lhe devemos.
Agora? Voltou ao sítio que tão bem conhece, à oposição, mas com uma circunstância um tanto diferente, não vá ser o partido menos influente num Parlamento cada vez mais aberto a novas caras.

Vamos ao Banco. Não me esqueci. O tema fundamental é o BANIF. Sim, percebo o líder do CDS, as eventuais fragilidades do banco não seriam assim tão evidentes para que Portas as pudesse devidamente atenuar; como um simples pombo-torcaz não pode nunca prever que um tiro iminente sairá daquela carabina em sua direcção.
Chegou-lhes o Orçamento Rectificativo às mãos e, de súbito, amnésia que baste tomou-se-lhes o corpo. Não sabiam o que raio se tinha passado ali, é a verdade. E tamanha veracidade se lhes impregnou que votaram contra o mesmo, rindo-se, e girando a cabeça em negação como quem pensa que está tudo doido.

3) PSD

Os grandes culpados pela situação da desagregação do banco. Preferiram esconder um eventual problema – e digo eventual, porque ainda não o era na altura – pouco tempo depois de formarem governo, ao invés de admitirem-no e resolverem-no como, aliás, é o seu dever.
Compreendo que não desse jeito. Queriam uma “saída limpa” do triunvirato. Para tal, os esforços a levar a cabo teriam de ser os do “custe o que custar”. Mas não deve valer tudo em política, senhor Passos Coelho, e a minha consciência não me permite perdoar a sua negligência.
Todavia, e como nem tudo deve ser tão crítico assim, há pelo menos um pequeno alívio à minha alma: quando chegou o momento de votar o Orçamento Rectificativo, abstiveram-se, isto é, estenderam a mão ao PS para que o orçamento levasse a melhor no parlamento. Consciência tiveram, lá isso tiveram.

4) PS

Pouco após tomarem posse do XXI Governo Constitucional, o porvir mostrou-se-lhes pouco risonho – primeiro com os valores enganosos da Sobretaxa do IRS, agora com o BANIF caído do céu. Portanto, pequeníssimas coisas boas ou más tenho para lhes apontar. A solução para a venda do banco não creio que tenha sido a melhor, mas é evidente que quanto mais tempo passasse, menos soluções surgiriam. Manobraram, assim, com o que podiam.
Veremos, num futuro próximo, como resultará.

Álvaro Machado - 17h36 - 26-12-2015

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