Reino Unido despede-se: será o fim dos dias para a UE?

A Europa que fora construída sobre os alicerces da cooperação, desenvolvimento e "sem fronteiras" onde tudo parecia ser um paraíso, onde, em cada canto, florescia uma imensa tolerância ao "europeu de gema" que circulava livremente por todos os Estados-membros parece estar a sucumbir.

A crise económico-financeira que despontou em 2008 fez-nos perceber duas coisas, pouco evidentes no momento, clarividentes à posteriori: ou os valores intrínsecos a esta União Europeia conseguiriam, juntos, superar as imensas adversidades que cresciam (ou que, pelo menos, só agora se tinham tornado tão graves, tão desesperadamente graves) em países como a Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda, Chipre..., ou então começariam a surgir vozes revoltadas com as políticas de austeridade, com as imposições dispares do FMI a cada um dos países, grupos extremistas de esquerda e de direita ganhavam agora o mesmo pretexto que Lenine e Hitler haviam ganho na sua época. Sim, a humilhação dos povos, o orgulho ferido da pátria, a necessidade urgente de romper com a união e fechar fronteiras.

Pois bem, de 2008 a 2016 muita coisa foi crescendo, muitos desses pequenos grupos, quase inofensivos à época, se tornariam no refúgio para muitos indignados. O desemprego atingia recordes atrás de recordes, a fome passou a ser uma realidade ainda mais acentuada. A classe média via o seu poder de compra e a sua qualidade de vida descerem abruptamente.

Le Pen crescia à velocidade de luz em França. Em Espanha, cada vez mais os Bascos e os Catalães aclamavam a sua independência em relação ao próprio país. A quase desintegrada Aurora Dourada conquistava 13 lugares no Parlamento Helénico. Os membros do UKIP com Nigel Farage ao leme tornar-se-iam perigosamente alvos a ter em conta. Depois de toda estas nuances, imperativa seria, pois, a permanência na UE. Custasse isso o que custasse. O referendo da Grécia que Tsipras e Varoufakis fizeram chegar ao povo helénico, todavia, foi mais um motivo para que se questionasse se a união tinha ou não "pernas para andar". Schäuble, talvez por receio, tenta com as suas conferências influenciar a tendência de voto dos gregos. Reiterava: "a saída da Grécia do Euro poderá ter consequências catastróficas". Merkel adoptava uma posição mais reservada, mas nem por isso menos preocupante. 60% do eleitorado quis uma renegociação no Eurogrupo e uma lufada de ar fresco numa crise tremendamente regressiva a todos os níveis. Nada aconteceu. E quando, por momentos, se pensou que a Europa ia conseguindo erguer-se de novo sobre tamanhas adversidades, eis que a Crise dos Refugiados esbate de frente. Milhares e milhares de muçulmanos entravam pelas nossas fronteiras. O povo dividiu-se, a opinião pública também: se uns queriam acolher os refugiados, pois seria essa união dos valores democráticos, da tolerância para com o próximo, outros, pelo contrário, queriam fechadas as fronteiras e vê-los daqui para fora. Para todos os efeitos, chegámos hoje à saída do Reino Unido da UE. Querem as fronteiras bem estabelecidas, zelar pelos interesses do seu povo, estabelecer as suas próprias políticas sem que ninguém aprove ou repugne por isso. Se será o fim? Não sabemos. Mas a verdade incontornável dos factos é que muita coisa irá mudar daqui para a frente. Os extremos vão tentar agarrar a oportunidade do nacionalismo. O desespero pode levar a que um projecto teoricamente perfeito sucumba num ápice. Esperemos para ver o futuro. Álvaro Machado - 12h56 - 24-06-2016

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