Domingo de eleições ou Domingo de ilusões?

Esta manhã tem-se revelado oportuna para recuperar as palavras de Carlos Coelho no Prós e Contras, em Maio de 2011, quando tomara a palavra vindo da plateia: "Boa noite, Fátima. Eu acho que a primeira coisa que o país devia fazer era despedir os partidos políticos".
Os ilustres convidados da mesa, ditos deputados, carregaram naquele momento uma espécie de vergonha alheia sem pestanejar. Como em tão pouco tempo haviam sido reduzidos à mais insignificante descrição, mas que, em todo o caso, os descrevia tão cristalinamente?

Basta vermos as campanhas eleitorais pelo país fora para o perceber. Aqui e ali, homens e mulheres compõem listas e candidaturas para gerir freguesias e municípios. As praças têm uma enchente aterradora, erguem-se bandeiras, perpassam carros ensurdecedores, ouvem-se discursos - primeiro dos candidatos, depois dos que lá conseguem subir ao púlpito e ter a mais insignificante participação possível. As redes sociais entulham-se de fiéis seguidores que ora apoiam o seu partido - sim, o partido que os forma e que portanto lhes define a maneira de pensar -, ora atacam o adversário a níveis baixos e básicos.

É a maneira dos partidos políticos fazerem política. Assentam, para isso, a sua base de campanha
num populismo desmedido que hoje em dia vai muito para além de guardar certas obras públicas para o fim do mandato ou então de assentar o seu poder recebendo deputados e ministros do partido nas respectivas terras. Hoje em dia, esta maneira lancinante de "fazer política" move uma quantidade de ignorantes bem mais significativa, porque todos têm uma opinião nas redes sociais, todos têm um partido, todos apoiam algum candidato.
Desculpem-me. Disse todos? Não, não são todos! Nem tampouco considero errado que as pessoas expressem opiniões, desde que sejam opiniões com o mínimo de racionalidade e compreensão do mundo que os rodeia. Não considero opinião nenhuma assentar apoio num candidato sem definir uma linha orientadora, capaz de percepcionar os problemas reais dos municípios e propondo medidas concentras para um melhor desenvolvimento de infraestruturas, um melhor controlo de despesa, e, consequentemente, uma maior urbanização dos serviços. Tal coisa, contudo, só seria exequível com um trabalho reformístico penoso e com técnicos especializados para cada um dos sectores.

Domingo o cenário repete-se. As mesmas pessoas vencem, a mesma forma de fazer política mantém-se, a gestão assentará nos mesmos propósitos, isto é, em sucessivos erros político-financeiros, estruturais, culturais, cívicos. Abstenção nos píncaros. Enfim, tudo como dantes.
Ainda assim, há sempre quem cumpra um dever cívico e até intelectual nas urnas: votar em consciência, na pele de um cidadão consciente e devidamente informado, para que, dessa forma, o seu voto não tenha sido em vão como em outros.

Álvaro Machado - 12h34 - 29.09.2017

Comentários

Mensagens populares