A manhã na cidade, a festa prolongada


Era de manhã na cidade inexistente e estava um calor abrasador.  Ergui-me rapidamente do quarto que imaginei, peguei com a mão direita o Destino e com a mão esquerda a Vida; saltei a porta como se não existisse, e na verdade era invisível, visivelmente falando; saí numa correria abafada e lenta para os andares abaixo, naquele apartamento - que quão maior era, mais tinha a certeza que não existia - e descia.. descia até ao infinito da escadaria uniforme.
Em cada andar havia uma recordação, antiga ou moderna, de espaços físicos que nunca tinha visto mas que me tinha recordado todos os dias, algumas vozes doces escapavam à luz, havia frescos suspiros, gritos avassaladores de mendigos, aldeias, cidades! E eu percorria aquilo com dores estonteantes.

Hoje diziam ser dia de festa prolongada: em cada canto via-se gente ignóbil com sedas hipócritas e inconcretas que causavam um fel constante e perceptível à distância. Criticavam tudo e todos, julgavam tudo e todos, porque eram os doutores da cidade. Eram homens de grandes casas, grandes luxos e pouca carestia. Fitavam quase sem sabedoria ou conhecimento mas mesmo assim importunavam, preocupavam-se por outras vidas que não fosse a deles, tão patéticos que eram!

Álvaro Machado - 18:54 - 29-03-2012

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