Evolucionismo do século XXI


Depois de tanta evolução a que o homem se sujeitou, pelo lado da Europa, chegou a vez de fazer exactamente o contrário - regredir em todos os sentidos. O século vinte e um indubitavelmente nasceu com esta primazia de ser um século em que as pessoas, no geral, deram azo, não à imaginação ou à criatividade, mas à inércia de uma vida que vai sendo construída por meras probabilidades.
Vou resumir esta ideia que, enquanto português, pobre, é a que prevalece: as sucessivas políticas a que temos vindo assistido em Portugal e na restante UE (expecto a Alemanha) têm sido, na sua maioria, um fracasso completo. E porquê? A culpa é de quem afinal? Convêm salientar uma outra nota: este continente afundou-se desde da grande crise americana, e nós não soubemos dar a volta. E porquê? Culpados serão os americanos? A resposta é não.

Havia um homem muito desvairado que passava na minha rua todos os dias. Ele era triste, velho e casmurro no que dizia. Um dia, mais um igual, ele ia de cabisbaixo pela estrada fora, quando, de repente, me virei para ele e disse:
- Pois é de pobres e ricos que se fala. Classe média já não existe, evaporou e nunca voltará. Não concorda senhor?
Olhou-me nos olhos com um sem à vontade que me deixou constrangido. Afinal quem era aquele homem? Eu dirigia-me a ele, inconsciente, e tratara-o como um pobre de quintal! Ah, por momentos quase desmaiei!
Ele assentou num tom firme:
- Tem você a sua razão meu caro.
E continuou:
- Sabe que eu próprio já fui da classe média, agora sou um trabalhador explorado. Enfim é o que nos impõem lá na empresa do Ramiro: trabalhar 18 horas por dia, intervalo de meia-hora, e um salário que é pago em alimentos e não em números como tantas pessoas idolatram. É a dependência a que estamos sujeitos. Trabalha-se e come-se, ou vamos para a rua e morremos.
Durante momentos tremi e vi naquele homem orgulhoso uma vida sem chama, uma alma que nem sequer dava pelo passar das estações do ano e, por isso, já nem as diferenciava. Tudo era obscuro e vazio naquele coração explorado pelos tentáculos do empresário Ramiro.

A culpa afinal não é, nem nunca foi, de ninguém. Todos estamos errados em relação a tudo. E, todavia, acabamos como em séculos passados: trabalhos com um excessivo horário, pouco descanso, mal remunerado e onde as pessoas trabalham sem gosto nem prazer; os empresários exploram, as empresas lucram e os operários empobrecem a cada dia que passa.

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