À conversa no Dia Mundial da Poesia


 Sexta-feira, Dia Mundial da Poesia

O zé-povinho faz sempre por aparecer, mesmo que digam, não senhor, eu não vou, mal a hora obrigue a uma decisão, dirão, sim, sim senhor, estaremos lá. E vão mesmo. Mesmo não sabendo bem como nem porquê. Vão alegres e muito asseados, decoram algumas perguntas, não muito formuladas, porque a inteligência é de aparência e não de substância, num instante para mais tarde colocarem ao senhor escritor, ah sim, ele é muito conhecido.

Está uma noite fria e a sala enche-se de calor humano. Cada um com o seu propósito, mas em conjunto, numa união apenas pela ocasião, lá se vão sentando uns ao lado dos outros, em cima, em baixo, até o local ficar completamente cheio. Começa o senhor a falar, tudo a ouvir, respeito acima de tudo, curiosíssimos em saber as experiências dele, e há ali, de facto, quem queira estar para retirar alguns ensinamentos úteis para o futuro e quem vá só por ir, ou por uma questão de cortesia ou por mera politiquice enfadonha, o que chega a ser ridículo, porque soltam uns sorrisos mal manejados e não estão ali a fazer nada de jeito. Mas esses já vão embora, inda nem a meio da conversa estamos. Bem-haja, digo-lhes.

Não tive necessidade de aparecer, apareci porque assim aconteceu. No imprevisto do momento fui um felizardo em aparecer. Autografou-me um livro, deu-me dicas das quais mais tarde me servirei para também ser um como os dele, até o modelo da sua caneta sugeriu para comprar, é barata, mas produz muito. Está à vista.

Agora, vou-me embora. Parece que outros inda ficaram, mas é frio e estou cansado. Aprendi muito. Percebo que o senhor também esteja cansado, mas ainda tem que aturar aqueles. 

Álvaro Machado - 19:48 - 23-03-2014 

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