A cimeira da crucificação

Desenganem-se os crentes. Os líderes europeus e, em especial, o Presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem, mestre por sinal reconhecido por todos menos pela universidade irlandesa (University College Cork), fazem tudo para humilhar torpemente uma nação tão impregnada de valores como é a Grécia. Humilham um povo, hipotecam a geração de agora e do futuro, escarnecem do mal de milhares de pobres que nobremente lutam sem saber o dia de amanhã, e tudo porque estes senhores, chamem-lhe donos da Europa enquanto eu lhes chamo miseráveis, decidem impôr um plano económico a um país sem tampouco ouvir as propostas do outro lado da mesa.

Lembro-me que Varoufakis alertava, e alertou sistematicamente, para a falta de diálogo e de compreensão na mesa de negociações. Nunca o ouvimos recusar e negar a culpa dos governos gregos no preenchimento das lacunas sócio-económicas, da escassez de reformas de estruturais a fundo, da inevitável insustentabilidade deste sistema. Ouvimos, pelo contrário, Varoufakis pedir uma conjunto de reformas estruturais que não afectassem novamente os mais desfavorecidos, que a dívida se tornasse sustentável para que a Grécia voltasse aos mercados, mas tudo isso se tornou imperceptível para os ouvidos do Eurogrupo - assim sendo, divergia-se por meio ponto percentual no conjunto de propostas discutidas pelos credos e o ministro das finanças grego.

Todos ignoraram quando, no seu blogue pessoal, Varoufakis respondera directamente a Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, quanto à sua remissão para a negociação difícil 'de todas as partes'. É claro que hoje consigo decifrar plenamente o que isto queria dizer: o objectivo, desde do início, não era uma negociação 'de todas as partes', mas somente de uma única parte que impunha medidas dogmáticas a toda uma nação.
O pedido de reformas estruturais a fundo sem cortes nas pensões e nos salários, sem reduzir as condições de vida da população, nem sequer estava em consideração; estava, isso sim, uma agenda de mais cortes selvagens nos sectores mais frágeis, acompanhados de aumentos de taxas de juro.

Nada é ao acaso. As pessoas inteligentes, que questionam sempre os métodos impostos à força que se haviam tornado num paradigma dogmático, nem sempre são bem-vindas no seio dos mais poderosos. Assim, não tenho dúvidas que Varoufakis foi afastado por esses mesmos motivos, porque este pseudo-mestre do Eugrupo e Lagarde não suportaram um outro caminho, questionando o traçado por si, e com outras medidas à mistura.

Tsipras tem vindo a recuar nas negociações. O principal motivo de o fazer é, evidentemente, evitar mais disparidades do que aquelas que inevitavelmente surgiram nos últimos anos. Mas outra coisa, mais forte do que todo esse desejo de reconciliação, atravessa-se no caminho do primeiro-ministro: um novo resgate, com ainda mais medidas asfixiantes para a economia e para a população, e com um tempo limite de aceitação no parlamento grego até quarta-feira, passando, dessa forma, a uma (quase) certa insustentabilidade democrática.

O fim desta farsa negocial começou ontem, quando Schäuble apresentava um documento com duas alternativas possíveis para a Grécia: permanecendo no Euro com um novo resgate ou com um 'time-out' onde, nos próximos 5 anos, estariam os gregos afastados desta união monetária, suportando-os com ajudas humanitárias caso necessário.

Tudo se resume, uma vez mais, às palavras de Varoufakis: «O problema é que a UE não gosta de democracia».

Álvaro Machado - 20:32 - 12-07-2015

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