Frieza ou compaixão?


Entrei na carruagem sem convicção, de algibeira e mãos vazias, e senti-me frio aos que, num acaso, se me cruzavam o olhar; verdadeiramente não podia crer nem na cruel humanidade que estava defronte nem no sentido da vida (que a existir seria então uma crueldade, uma fatalidade!...).
Por momentos decidi observá-los. Temo que o senhor que está ao meu lado tenha preocupações exageradas na vida, tão-só pelo seu rosto cravado de desassossego, e que as duas mulheres onde se conversa exaustivamente não tenham consciência para saber o fim para que tende a vida humana. Os rostos, porém, de todos daquele lugar ora se imbuíam de sonhos, ora se imbuíam de falta de esperança.

O comboio parou. Entram mais uns quantos – não sabendo eu de onde vêm, para onde vão, nem tampouco conhecerei a sua história, apenas nos cruzámos por instantes. Com eles, entrou uma senhora já de idade, onde as roupas lhe assentavam mal devido ao corpo disforme, e o seu semblante erguia-se lívido, carregado de desgosto, e juntando a isso seria o facto de não ter lugar disponível na carruagem. Olhei-a atento e senti, de imediato, uma compaixão e uma ternura inexplicáveis. Disse-lhe prontamente, Venha, por favor, sente-se no meu lugar.

A senhora sorriu. Agradeceu-me e caminhou até ao meu lugar. E isto, para mim, foi como que conquistar o universo, ver-lhe um sorriso após tamanha expressão de amargura soube-me a vitória, uma grande vitória.

Álvaro Machado -19:08 - 04-09-2015

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