Outros caminhos, novas viagens

Ver-se-ia numa casa fria, tremendamente fria, onde os repuxos do orvalho ainda se lhe salpicavam intermitentemente à vista cansada da noite anterior. A casa situava-se junto a um riacho, perto do bosque, com pouca vizinhança ao redor, o que seria devidamente bradado aos céus pelo sossego aí sustido, e de quando em vez lá apareciam forasteiros de mãos e rumo por preencher.

Uma voz feminina, ao fundo de um palco ainda sombrio, enternecia os duros e brutos corações dos homens então sentados no bar rústico, bebendo as suas cervejas, e apostando os seus tostões com um riso quase maquiavélico. Canta doce e invulgar. Preenche todos os recantos do espaço composto por aqueles matulões desvairados, sendo que, eles próprios, ouvem-na atentamente.

Acabou a canção e com ela uma ovação, por fim, ilumina o palco. Aplaudem-na de pé os pobres coitados, assobiam-na os mais pervertidos, sem modos nenhuns.
Ele ergueu-se, no meio da atónita multidão, e rapidamente se precipitara para a porta. Dissera-lhe um homem:

- Que momento, que canção! Foste tu, único então, que não se manifestou aqui. Não tens sentimentos, seu ignóbil?

Olhou-o de frente, cravou os olhos nos seus olhos, desprovido de qualquer reacção humana, e continuou o seu caminho para casa. Estava frio, muito frio. Nevava imenso. E lá foi indo até desaparecer no frio da noite.

Álvaro Machado
- 19:25 - 06-12-2015

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