Certeza do Medo e da Morte

Há coisas, no universo, tremendamente absurdas. Por exemplo: a certeza do medo e da morte sobressalta-nos, não estais de acordo? Sobre mim, a bem dizer, o que se me inquieta mais é sobretudo o movimento dilacerado da consciência, o saber de pronto para que fim tendo - pouco ou nada seja, pouco ou nada queira durante esse meu estar na vida.

Irei tão-só desintegrar-me. Dizeis-me para não o pensar, custa menos, a fé pode, quiçá, atenuar esse fim tenebroso que inevitavelmente se avizinha. Mas como, como haveis sequer de, por breves instantes que sejam, distanciar-vos do inevitável, do abismo? Como conseguis que o sono vos tome sem que tampouco uma voz trémula se eleve e vos enfraqueça? Sim, porque havemos de ser fracos, todos nós temos momentos de fraqueza...

E aqui surge-nos a indubitável solidão. O tédio, pois é-lhe subjacente também. Se bem me recordo o «estilo» onde Herberto Helder tanto invocou estes pressupostos tornara-se gravoso. O meu estilo é escrever, escrever sobre o que mais sinto, mas onde me levará toda essa indecisão, essa viagem consciente onde o coração balbucia por coisa nenhuma e tudo ama?... pois, ao que parece, distancio-me do grito das crianças, sou o próprio poema ao qual elas fogem inocentemente...

Se eu quisesse, debruçar-me-ia sobre a morte, sobre essa infame tendência da humanidade findar, e os moldes em que isso iria acontecer. Assim, a minha arte tornar-se-ia, toda ela, uma imensa loucura!, uma genialidade de bradar aos céus!...

Álvaro Machado - 18h30 - 15-06-2016





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