Riqueza indesejada

As pessoas tendem a querer mostrar mais do que verdadeiramente são. Acham-se detentoras de tal superioridade e hegemonia que esqueçam verdadeiramente o que são.
Têm manhas na fala, quebras no andar, sinistralidade no toque. E isto enaltece-lhes a mente como um sem-abrigo enaltece a subsistência de ser-se pobre. Inventam nomes ao próprio nome e atribuem-lhe condecorações tão fanáticas que são invejáveis aos ignóbis olhos. Fazem por berrar que são ricos nos cafés que frequentam e quando o empregado de balcão lhes faz sinal de quanto devem, a mão fica trémula, a voz escorrega e as pernas falham; quando projectam a voz fraca contra a parede do sapateiro, faltando-se-lhe eloquência e bem falar, ainda o devedor é rico de título e nobre de traje, a voz torna-se forte, autoritária, e falha ao redondo do seu esplendor.
Quando se vêem estas figuras tais de corte imortalizada portuguesa é sinal, meus amigos, que estão falidos.