Chumbado




- Peco quando jurei à constituição e aos portugueses o inexequível das minha vontades, que se encontravam iludidas até então; nem eu, nem nenhum dos meus ministros, tomou consciência enquanto bandeiras se hasteavam ao vento e mãos se erguiam ao céu, com a esperança inerente a estes actos, pois era, na altura, totalmente exequível tirar Portugal da crise, isto se a troika colaborasse. Não colaborou.
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, atirava a toalha ao chão logo após aquelas palavras manifestarem-se pelo eco...
Já o velho ditado dizia: "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura". Hoje, o Tribunal Constitucional (leram bem, tribunal c-o-n-s-t-i-t-u-c-i-o-n-a-l) exaltou bem a Constituição Portuguesa ao chumbar quatro artigos do Orçamento de Estado. Parece-nos que a política do "vale tudo" começa a fracassar e é justo que assim aconteça. Há um limite para tudo. Exigir sacrifícios ao princípio foi uma tese bem aceite, o governo conseguira, então, aplicar a nova máxima de que era necessário o contributo de todos para recuperar: começaram a aumentar impostos, subiram o IVA, despediram pessoas sem olhar a meios, forçaram jovens a emigrar, mais desempregados (muitos desses já desistiram de procurar emprego), falharam as metas do défice, subiram taxas moderadoras, estagnaram o desenvolvimento do país porque o regresso aos mercados era o mais importante.
Os funcionários públicos e os pensionistas não só receberão o subsídio de férias, que lhes foi retirado injustamente, como também receberão o que já lhes foi cortado desde que este orçamento foi aprovado; a isto junta-se também o regresso dos subsídios de desemprego e de doença.
Posto isto, aparece Teresa Leal Coelho, porta-voz do Partido Social Democrata, com um ar injustiçado, mostrando a perplexidade do seu partido com a decisão do TC:
- Estou perplexa. Aliás, estamos perplexos. Estes ignóbeis do TC tinham de vir logo agora perturbar esta diversão do "tira aqui, tira ali"?
Após alguns segundos de reflexão, continuava a porta-voz:
- Os nossos 73 "job's for the boys" só provam que não impomos a austeridade assim ao de leve; há que ser coerente e racional - como o Paulo Macedo quando falou em "racionalizar na saúde"!
Em suma, o Governo de Portugal leva a lição do mais velho sobre o mais novo: "Tantas vezes o cântaro vai à fonte, que algum dia lá deixa a asa"

Álvaro Machado – 01:14 – 06-04-2013

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