Relvas: as três fases
Entrou como salvador da pátria, exerceu o cargo como vilão e
despede-se como herói de Portugal.
Salvador da pátria porque o seu peso pendeu na balança para
que Passos Coelho fosse eleito primeiro-ministro; foi, digamos, o mentor que projectou
a sua vida política na campanha eleitoral e, posteriormente, no governo.
Ficou vilão quando o seu passado fusco embaciou a tão
merecida prosperidade, pois ninguém resiste às histórias que não têm ponto
final. Relvas sentiu-o bem na pele. O pesadelo começava em 1984 quando se
inscrevia, pela primeira vez, na Universidade Livre e, após um ano, obtinha a
disciplina de Ciência Política e Direito Constitucional através de frequência
escrita e prova oral; prosseguia, cavalgando, e em 1995 matricula-se na
Universidade Lusíada para o curso Relações Internacionais, curiosamente não
concluiu nenhuma disciplina, e ficou em maus lençóis por não pagar as propinas
(160.272 escudos, aproximadamente); 2006 torna-se o ano chave para Relvas, pois
decide, finalmente, tomar consciência que faltar às aulas é má educação e não
fazer as disciplinas condiciona o seu futuro; eis que se torna licenciando em
Ciência Política e Relações Internacionais à velocidade da luz, um ano depois
de se matricular.
O êxtase deste vilão intensifica-se com o caso das secretas
e a relação misteriosa com Jorge Silva Carvalho, bem como as alegadas pressões
deste à jornalista do jornal Público, Maria José Oliveira.
Não obstante a isto, enaltece-se-me o gosto de investigar
pessoas deste calibre: Miguel Relvas recebe, em 2011, 14 mil euros a título de
pensão; falsificou a sua morada, lesando o Estado, como forma de aumentar o seu
vencimento; antes de integrar o governo, Relvas recebia 2800 mensalmente por
"uma subvenção vitalícia por 12 anos de actividade política". Vilão
torna-se, assim, muito pouco para definir este senhor...
Agora, a parte em que Miguel Relvas sai da vida política
como herói de Portugal: disse, hoje, no seu discurso, nada mais nada menos que
"Eu cumpri a minha missão". Para ele, a reorganização autárquica foi bem
sucedida, nada à pressa e bem delineada; a reestruturação da RTP está em
marcha, polémicas sem lhe ver rasto e a demissão do director da estação televisiva
aconteceu apenas por motivos de ponta; o facto de há uns tempos atrás terem
dito aos jovens "emigrem" não invalida que o programa "Impulso
Jovem" brilhe e salve os jovens com estágios em que beneficia mais o
empregador do que o empregado.
No seu discurso de despedida, Relvas disse com algum
romantismo: "Outros exemplos poderia aqui deixar, tanto nos sectores
referidos como nos campos de que tive a responsabilidade como a imigração, a
juventude e desporto ou a igualdade de género..." – aliás, se não me falha
a memória, bem recentemente o caso de falha policial num jogo entre o Guimarães
e o Braga foi mesmo um acto responsável…
Parte herói de Portugal,
Relvas, o homem que nunca conheceu ninguém igual.
Álvaro Machado – 22:57 – 04-04-2013
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