Manual dos bons costumes.


Ouvir o Paulo Portas sempre me reconfortou. Ele vê o país muito melhor, as exportações das empresas estão como nunca estiveram, não há igual na história, finalmente tanto esforço seu e do seu amigo Passos Coelho surte efeito.

Portugal está muito melhor. Sacrifício, empenho e luta foi quanto bastasse para que isso acontecesse, os portugueses conseguiram dar-lhes aquilo que queriam depois de tanto lhes ter sido levado, que importa quantos ficaram sem casa e à fome? Ou aqueles que passaram do equilíbrio de uma classe média para o extremo, para a desgraça que lhes levou o sentido da vida? Nada. Isso não interessa. Eles vêm à televisão sorrir e dizer que está tudo bem: sim, o povo portou-se bem. 

Sabem... nada importa na vida, porque tudo continua na mesma. Continuam a sugar-nos o melhor de nós, aquilo por que todos os dias nós acreditamos, que é levantar da cama e ir para o trabalho e acreditar… mas acreditar em quê? No ambiente pesado que envolve os hospitais e os centros de saúde quando se tenta marcar uma consulta e respondem, não pode ser este mês, nem no próximo, nem tão cedo, está tudo lotado. E mesmo que digamos, espere, senhora, eu estou mesmo mal, não sei se duro tanto tempo. Responderão, não lhe posso fazer nada. E não fazem. Com aquela frieza como quem não quer saber do desfecho daquela situação. É nisto que acreditamos?

Olho em volta, o que vejo eu, vejo o comércio estagnado, muito menos capital a circular, muito menos poder de compra, mas eles tiram disso uma inspiração divina para chamar de "recuperação económica". Ah, disparate! Sabem lá eles o que é estar aqui em baixo, viver com quem realmente é afectado e não vislumbra futuro. Sabem lá! Sabem lá os sacrifícios que fazemos para estudar, quantas lágrimas são derramadas por aqueles que nem essa oportunidade tiveram... Sabem lá o que é viver!

Mas tudo está na mesma. Eu estou aqui sentado e ele está em directo na televisão para milhares de portugueses com um sorriso estampado na cara e com aquele ar como quem diz "quero lá saber". Que fazemos nós? Votamos neles, concordamos com eles, achamos que estamos muito melhor. Que se foda, que se foda... Estou farto.

Álvaro Machado - 13:35 - 27-03-2014

Comentários

Mensagens populares