O artista é assim. Não é ser comum nem mortal.

Tento perceber o mundo e a sociedade que me rodeiam. E essa vontade de querer interpretar, por si só, é um derrotismo da minha parte; pelo menos, se não for logo, acaba mais cedo ou mais tarde por vir a ser.

Cada vez estamos mais levados a escolher aquilo que todos escolhem, inevitavelmente é o mais correcto, a decisão que leva a um maior consenso e portanto nada de andar aqui um qualquer que rejeite o que a maioria venera. Desgraçado do que ouse sequer tomar isso como uma possibilidade, pois acabará por ser afastado do ciclo de amigos e da sociedade, acabará por não ter um trabalho, a não ser que aceite ser explorado.

O segredo para viver nos dias que correm acaba por intrigar de tão modelado que está: levamos um dia de cão, rotinado, dormimos, acordamos, trabalhos, mantemos as conversas de café onde falamos mal deste e daquele, voltamos a casa, comemos, sorrimos por sorrir e vamos dormir. Amanhã? É outro dia, um igual a todos os outros. 

Duvidais disso? Então olhai em volta e vede com os vossos olhos. Vede bem como se compõem as cidades à noite: iluminadas, os grandes edifícios, os apartamentos em que a maioria tem luz desligada porque amanhã é dia de trabalho, e o silêncio dos passos de muito poucos que por ela divagam a pedir satisfações... Porquê? Porque tudo está modelado, impõem-nos a rotina e nós aceitámo-la levianamente, afinal todos o aceitaram, não é verdade? 

Hoje em dia todos são (ou deveriam ser) politicamente correctos, isto é, de tal forma respeitadores do paradigma o são que vivem os seus dias conforme o passo do outro que vai a seu lado; os próprios artistas são-no de tal modo que esquecem a arte por momentos, preocupam-se com a opinião alheia e, por isso mesmo, essa arte se vai desvanecendo pouco a pouco até tornar o artista comum a qualquer outro homem. 

Não podem querer que um artista se preocupe em vender. Não podem, calem-se, seus hipócritas imundos. Um artista tem que romper, tem de viver com intensidade cada momento, fora de todas as rotas e de todos os pensamentos lógicos e concebíveis!
O artista é assim. Não é ser comum nem mortal.

Álvaro Machado - 02:42 - 21-06-2014

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