Esfriada consciência

Já não é necessário mergulhar a cabeça na lama até ter a consciência que nada somos e que nada vale a pena. Pelo menos, não nos dias que correm. Os dias que correm, pelo contrário, preenchem-se de pessoas que se disfarçam nas multidões, onde encobrem a mágoa que carregam por um passo firme e um sorriso nos lábios. 

Essas pessoas têm uma rotina. E quando circulámos e vivemos nesse meio entrámos num mundo ingrato, supérfluo e invejoso como, até agora, não havia percepção. Passámos a conviver com aqueles andares altivos, sorrisos mal-amanhados, conversas em que este critica aquele e vice-versa. Vivemos, então, num meio sujo. Sujo e hipócrita – onde só sairemos dele no final do dia, quando o cheiro da velha casa voltar, exaustos do trabalho, revoltados do meio e tristes por dentro.

Descansemos. No final do dia pelo menos há paz e tranquilidade. Mas volta a claridade, volta a ser novo dia, volta o disfarce das multidões e voltamos nós a sair de casa e a entrar naquela rotina porque tem de ser assim, porque temos de sobreviver no meio das cobras e dos ratos que por dentro deles corroem as más energias e as pragas…

Eu ainda estou aqui. Com um coração mole e com uma voz trémula, a viver por entre todos os males do mundo, a sofrer com o que me é alheio (e claro, é uma tremenda estupidez e um insulto à inteligência eu ainda sofrer com quem só nos tenta fazer mal) e levemente, muito levemente, procuro com a minha mão a caneta para escrever tal sensação obscura. Obscura e que chega mesmo a tornar-se um averno, fora e dentro da minha velha casa. Meu deus, estarei então para sempre condenado à solidão?

Álvaro Machado - 18:15 - 02-05-2014

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