Divagação torpe


Ousar-me feliz - é esse o absurdo para que caio. Que ridículo. Como posso eu achar que o universo é para mim? Tudo existe. Se é comigo, se não é comigo, isso vale pouco, nada se modifica só porque existo.

Entristeço como uma alma vadia noite adentro. Por que estou longe daqueles que realmente amo? Por que me acerco destes pensamentos inúteis que lentamente me matam? Por que anseio por vida noutros lugares que não este, por que creio tanto no significado da vida como nestas estrelas sobre mim? 

O que mais me dói, no meio de todas as divagações inúteis, há-de ser sempre o não saber nada... o não fazer falta a ninguém... o não poder alterar o decurso das coisas, o não mover nem uma estrela que eu tanto amo...

É uma tristeza muito grande, esta que me trago no coração. De tão grande que é que perde-se-me qualquer réstia p'ra me ousar feliz. Os felizes são felizes. Aos que, como eu, nunca sentiram esse deleite, que lhes resta? Resta-lhes amar o que ninguém ama: as estrelas a que nunca há-de chegar, o indefinido para lá do mar, o amor do infinito, todo o abstracto encarregue de me fazer sonhar.

Ousar-me feliz? Queres mesmo que responda?

Álvaro Machado - 21:36 - 07-08-2014

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