Intelecto embriagado


Intelectualmente sou um bêbado compulsivo e sou, com certeza, um amante convicto da vida boémia. Para além de que tudo o que mova no mesmo drama, a tragédia grega que chega a reunir-se num só estado de alma a caminho do café, nos leva a querer pôr termo à vida tão irracionalmente!

Escrevo madrugada fora com uma lucidez perplexa, escrevo à velocidade do meu sangue insensato, tudo isso para provar que a alma é vã e efémera e que nada vale a pena...
Escrevo o meu testemunho imparcial e imune ao receio que a vinda da morte me poderá trazer, que se a morte vier é circunstância natural como foi a minha vinda a este mundo, e ergo-me numa inspiração tamanha até absorver o universo inteiro num breve suspiro...

Sim, este que vêem, louco e desvairado, divaga porque essa é a lei da vida. É o fundamento do mestre Sócrates. O grito do génio Pessoa. A morte súbita de Sá Carneiro. A dúvida permanente de Antero. A frieza desajustada e racional de Saramago. A beleza de Cesário e a manifestação visionária de Eça. A de mim próprio é o meu sangue!

Mas quando me vires, enobrece-te, esquece esse fundamento meu, curva-te perante todos os génios que em mim reclamam a palavra, e desaparece do mundo. E deixa-me, deixa-me morrer com os meus pensamentos!

Álvaro Machado - 04:36 - 03-04-2015

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