Um pau de dois bicos


Enquanto nós, ocidentais, ocupámos os nossos dias com uma discussão leviana à mesa de jantar ou então numa esplanada do café sobre as questões mais supérfluas possíveis, eis que, do outro lado, as coisas levam um rumo um tanto diferente: questões de vida ou de morte, portanto.

Quanto muito desfolhar o jornal torna-se um despertar para a realidade, e aí já não podemos passar incólumes nem desviar as atenções ao Oriente (mais concretamente a questão do Iraque). Ora, se bem me recordo, há uns meses atrás escrevia sobre o número totalmente descabido de inocentes mortos no conflito sírio e sobre a indiferença com que a ONU abordava este assunto, pois nenhuma intervenção foi feita para que se evitasse uma guerra civil sangrenta em pleno século XXI.

Agora, eis que o interminável conflito entre o autoproclamado Estado Islâmico e o Governo Iraquiano se torna o epicentro no planeta Terra.
Depois de tantos avanços e recuos por parte dos jihadistas, uma importante reviravolta fez como que um despertar natural das atenções surgisse: a conquista de Ramadi, província de Ambar, levou, não só à morte de centenas de inocentes (que aliás continuam a ser o motivo de maior preocupação - o morrer sem saber porquê nem para que feito), mas também a uma ameaça real ao Governo Iraquiano.

O exército iraquiano fracassou por não ter evitado a derrota frente aos jihadistas e por isso teve que recuar no dia 17 de Maio. Perante estas adversidades, o governo vê-se forçado a recorrer ao pau de dois bicos para resolver a questão, isto é, aglomerar a nova coligação com as milícias xiitas ao exército iraquiano e às tribos locais poderá ser o quanto baste para recuperar Ramadi, mas também é uma séria ameaça no que toca ao confronto étnico entre a maioria sunita daquelas terras e a minoria xiita que já chamou a esta operação «Labaik ya Hussain», em memória Husayn ibn Ali, califa histórico e primo de Maomé, e que tem um intuito claramente provocatório aos sunitas.

Em suma, as guerras étnicas no Iraque parece que se hão-de prolongar durante muito tempo, levando os inocentes que desesperadamente tentam sobreviver no meio do caos, no meio da guerra e da miséria, enquanto nós, inconscientemente, somente mudámos a folha do jornal.

Álvaro Machado - 22:06 - 30-05-2015

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