Malo accepto sultus sapit

O punhal estava cravado sobre a mesa de tábua envelhecida. Todos os dias, ao acordar, sentia-me confrontado entre a vida e a morte, errada e lucidamente confrontado. Havia momentos em que, derivados de tamanha abominação pelo mundo, precipitava-me para ele, entontecido, derrotado por todas as leis do universo; outras alturas, tamanho era o pesar de consciência dos sentidos, acobardava-me e remetia-se-me um silêncio perpétuo.
Mas todos nós, a certa altura da vida, achamo-nos imortais, devidamente eternos, ainda que o punhal esteja já cravado no nosso coração nefasto e tenebroso. Pensamos: serei outro se assim acabar!...
Os pés falham. Os braços tremem. Eu próprio desespero por não conseguir ser cousa nenhuma nesta intermitência entre falhanço e decadência... Álvaro Machado - 17h13 - 04.12.2016

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