Viena
Chovia imenso em
Viena. Caminhávamos de madrugada e, posso afirmar, que estivemos toda a noite
entregues ao devaneio do espírito, pelas ruas para além da compreensão humana,
compondo algumas notas soltas, alegres, desajustadas também, porque éramos
almas perdidas que por ali andavam.
A noite acabou por
passar e acordámos num quarto estranho, com gente estranha ao nosso redor,
murmurando uns para os outros qualquer coisa como "quem serão estes dois
vagabundos?". Mal eles sabiam quem estava ao meu lado, aquela criação que
Deus tinha com grande esperança, destinada a grandes feitos desde a nascença e
até depois da sua morte. Eles não viam que quem estava ali era imortal; porém,
eu sabia-o. Embebedamo-nos na noite anterior porque somos artistas, e os
artistas não precisam de viver muitos anos. Nem de ser normais, porque os normais
não contestam, nem sofrem, nem tão pouco supõem o decurso natural das coisas.
(Eu não tenho talento nenhum; expecto quando escrevo, porque aí aspiro a uma
liberdade quase divina. Creio que a mesma situação se aplica a Herr Mozart: tem
um talento prematuro e é um prodígio para a música; creio também que está
avançado para a sua época.)
Agradecemos a hospitalidade aqueles que tomaram conta de nós e tomámos o nosso rumo – que cada vez parecia mais incerto e mais deslumbrante, dava-me uma sensação estranha, confesso… Toda aquela cidade era uma inspiração para ambos. Afinal, estávamos da cidade do amor. Absorvíamos de cada lugar os mais detalhados pormenores, que faria deles uma obra-prima autêntica, de facto. Mas, tenho que o dizer, o maior prazer que naquele momento eu tinha era estar na companhia daquele homem: respirava música a cada minuto que passava, cada passo dado e florescia uma nota, um acto, uma ópera genuína que arrebataria a europa inteira! Decididamente, este homem compunha dentro da sua cabeça as obras que marcariam o mundo da música, coisa que, na altura, ninguém poderia suspeitar. Nas conversas que tinha com ele, relembro-me bem, dizia sempre: “Posso ser um homem vulgar, mas garanto-te que a minha música o não é”. Como eu compreendia o que ele dizia naquelas palavras!
Agradecemos a hospitalidade aqueles que tomaram conta de nós e tomámos o nosso rumo – que cada vez parecia mais incerto e mais deslumbrante, dava-me uma sensação estranha, confesso… Toda aquela cidade era uma inspiração para ambos. Afinal, estávamos da cidade do amor. Absorvíamos de cada lugar os mais detalhados pormenores, que faria deles uma obra-prima autêntica, de facto. Mas, tenho que o dizer, o maior prazer que naquele momento eu tinha era estar na companhia daquele homem: respirava música a cada minuto que passava, cada passo dado e florescia uma nota, um acto, uma ópera genuína que arrebataria a europa inteira! Decididamente, este homem compunha dentro da sua cabeça as obras que marcariam o mundo da música, coisa que, na altura, ninguém poderia suspeitar. Nas conversas que tinha com ele, relembro-me bem, dizia sempre: “Posso ser um homem vulgar, mas garanto-te que a minha música o não é”. Como eu compreendia o que ele dizia naquelas palavras!
Continua a chover lá
fora. Olhei, de súbito, para trás e estava outra vez no meu quarto, durante a
noite, a pensar em tudo… Chove tanto e chove dentro de mim.
Álvaro Machado – 23:50
– 04-09-2013
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